Os Puritanos e A chamada Para o Ministério

Rev D J MacDonald

Os sentimentos dos puritanos neste assunto são melhor sumarizados por Thomas Manton: “Que ninguém pode entrar no trabalho ou no ofício do ministério sem um chamado está, eu suponho, fora de controvérsia. Este chamado é interno e externo. Agora, o que é o chamado interno? Eu respondo. Deus nos chamou quando Ele nos fez capazes e desejosos; a inclinação e a capacidade são de Deus; dons e talentos são nossas cartas de apresentação que trazemos ao mundo [para mostrar] que somos chamados por Deus e autorizados para a obra. É verdade que existe uma distância e uma diferença nas capacidades, mas todos quantos podem se enxergar como chamados de Deus, devem ser capazes e aptos para ensinar”.[1]

A que William Perkins acrescenta, “Saberias tu se Deus te enviaria ou não? Então tu deves perguntar à tua consciência e perguntar à Igreja. Tua consciência deve julgar a tua disposição e a Igreja [deve julgar] a tua capacidade. Da mesma forma como não podes confiar em outros homens para julgar a tua inclinação ou afeição, assim também não podes confiar no teu próprio julgamento para julgar a tua suficiência ou o teu valor. Se a tua consciência testifica a ti que o teu desejo de servir a Deus e à Sua igreja está acima de qualquer outro desejo, e se em provas feitas dos teus dons e aprendizado, a Igreja ... aprova o teu desejo e a tua capacidade de trabalhar a serviço de Deus no Seu ministério, e portanto através de um chamado público te permitem seguir; então Deus, Ele próprio te permitiu seguir”.[2]

Manton segue dizendo, “O chamado interno não é suficiente; para preservar a ordem na Igreja, um chamado externo é necessário. Como Pedro, em Atos 10, foi chamado por Deus para ir até a casa de Cornélio e então, além disso, ele recebeu um chamado do próprio Cornélio, assim devemos também nós, tendo um chamado interno do Espírito, esperar por um chamado externo da Igreja, do contrário não podemos legalmente ser admitidos para o exercício de um ofício e função tais. Assim, como no Antigo Testamento, a tribo de Levi e a casa de Aarão foram indicados por Deus para o serviço do altar, ainda assim ninguém poderia exercer o chamado de um Levita ou servo como um sumo sacerdote até ser ungido e purificado pela Igreja (Êxodo 28:35). Assim os ministros do evangelho, embora chamados por Deus, devem ter sua separação externa e apartados para aquela obra pela Igreja, como diz o Espírito Santo: “Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado”. (Atos 13:2). Vejam, o Espírito de Deus os havia escolhido, todavia ordena à Igreja, aos presbíteros em Antioquia, para apartá-los para a obra do ministério”.

Este é um resumo sucinto da posição dos Puritanos relativa ao chamado para o ministério. Esta posição ainda é a regra mestra, tanto quanto se refere às Igrejas que se intitulam Reformadas. Os Puritanos colocam a responsabilidade nos candidatos e na Igreja. Ao candidato cabe discernir o seu próprio desejo; à Igreja cabe discernir quanto aos seus dons e capacidade. Isso ilustra a necessidade de discernimento, particularmente pela Igreja, quando tais julgamentos solenes têm de ser feitos.

Penso que uma breve citação de John Flavel será uma conclusão apropriada a esta seção do nosso tema: “Este ofício deve ser confiado ‘a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros.’ (II Tim 2:2) — não a principiantes. Eu sei que as necessidades das igrejas são grandes, mas eu lhes imploro suprir suas demandas com bom ritmo, mas sem precipitação. O que é bom o bastante, em seu tempo virá. É menos arriscado colocar um rústico ignorante numa farmácia para manipular e preparar medicamentos para corpos humanos do que confiar a um homem destituído de ambas, prudência e lealdade, as dispensações das ordenanças de Cristo para as almas dos homens. Quais sejam os fins secretos dos homens, não podemos sabê-los, mas a qualificação para a obra nós podemos, e devemos, saber. Eu não desencorajaria ninguém que parecesse possuir inclinações pias combinadas com qualificações competentes. Muitos podem ser úteis sem ser excelentes, e eu penso que os homens mais comuns têm prestado os maiores serviços à Igreja de Cristo. Mas ainda, fidelidade e prudência são qualificações indispensáveis. A solene recomendação é para não impormos as mãos em ninguém, precipitadamente (I Tim 5:322)”.[3]  



[1] Works, vol 10, p 472.
[2] Works, vol 3, p 429
[3] Works, vol 6, p 580f.

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