Batismo Infantil (PARTE 2)

Gênesis 3
Em Gênesis 3, onde o homem cai em pecado e miséria, qual é a reação de Deus? Ele vem à procura de seus filhos rebeldes, Deus vem a eles. Notem bem. No capítulo 3:9 Deus toma a iniciativa: “Mas chamou o Senhor Deus ao homem, e perguntou-lhe: Onde estás?”. O homem está fugindo de Deus, o pecador não pode fazer outra coisa a não ser fugir da santidade e da presença de Deus. Mas Deus vem chamando o filho rebelde de volta, “onde estás”? Já temos aqui a manifestação da graça de Deus, do evangelho. A situação é bem grave: em vez de terem um casal de filhos obedientes refletindo a imagem de Deus, dispostos a glorificá-lo, agora têm um casal de pecadores rebeldes, dispostos a fugir de Deus e servir ao diabo. Antes da queda a fecundidade do casal serviria para encher a terra com servos de Deus. Depois da queda a multiplicação da raça humana só pode gerar mais pecadores e encher a terra com eles.

Como Deus vai retificar a situação? A resposta nós a temos, em parte, no capítulo 3:15, texto que os teólogos chamam de a “mãe das promessas”. Em linguagem teológica: o “proto-evangelho”, o primeiro evangelho. Podemos passar muito tempo desembrulhando as riquezas exegéticas desse texto, mas para a nossa abordagem no momento o que é importante é vermos como Deus responde à tentativa diabólica de acabar com o propósito da criação. Neste versículo Deus promete que não vai deixar toda a raça humana debaixo do domínio do diabo, Ele vai colocar um ódio, uma inimizade, uma antítese, uma oposição radical entre dois grupos dentro do gênero humano. Essa oposição, Deus coloca para assegurar que sempre teria uma parte da raça humana que o serviria. Notem bem que a resposta de Deus é uma promessa que perdura durante as gerações. Isso é chave, veja o que o texto diz: “porei inimizade entre ti (a serpente) e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente”. No hebraico a palavra “zera”, “semente”, tanto na primeira palavra “descendência” e na segunda, “descendente”, no original é a mesma palavra. Literalmente é o seguinte: “entre tua semente e sua semente”. O apóstolo Paulo escreve em Gálatas 3.16, onde menciona a semente de Abraão se referindo a Jesus Cristo, e porque a Igreja do Novo Testamento reconhece plenamente que isso também se refere à vinda do Senhor Jesus Cristo, os tradutores decidiram traduzir a palavra “semente” da primeira vez como “descendência”, e na segunda vez como “descendente” no singular, para enfatizar que é uma promessa do Senhor Jesus Cristo, sendo a primeira promessa da vinda e da vitória do Senhor Jesus Cristo.
Mas para nossa abordagem o importante é o seguinte: Deus aplica sua redenção por meio das gerações, da descendência tanto da serpente quanto da mulher. A redenção sempre restaura a criação. Deus criou o primeiro casal para encher a terra com pessoas que o glorificassem. O meio para conseguir a restauração foi através da multiplicação de gerações. Em Gênesis 3:15 Deus promete que vai promover a restauração. Ele vai juntar de entre o gênero humano os remidos, não os escolhendo arbitrariamente, individualmente, um por um sem laços que os liguem, mas de uma forma orgânica. Ele vai separar para si uma raça, um povo que, de geração em geração, pertença a Ele.

Genealogia
Isso explica porque a Bíblia, em geral, mas especialmente no Antigo Testamento, dá tanta importância às genealogias. Quando nós estamos lendo a Bíblia, muitas vezes, até o mais piedoso entre nós, pula as genealogias porque não parece ser uma leitura muito interessante ou importante. Pensamos: aquela lista de nomes não traz muito proveito espiritual. Porém, à luz daquilo que acabamos de ver, podemos entender porque a Bíblia dá tanta ênfase a genealogias, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. Também entendemos melhor porque Deus salva a Noé, um homem justo (Gn 6:9), diz a Bíblia, junto com sua esposa e seus filhos e as esposas dos seus filhos; mas Deus não escolheu pessoas de grupos diversos, e colocou-as na arca, Ele salvou uma família. A redenção vem em termos de família, em termos de gerações.

Abraão
Vemos a mesma coisa, a mesma ênfase, na história de Abraão, em Gênesis no capítulo 12:1. Deus promete fazer de Abraão uma grande nação. Por meio da descendência de Abraão Deus vai abençoar todas as famílias da terra. E toda ênfase que é dada, tanto em Gênesis 12, quanto em Gênesis 15 e 17 sobre haver um herdeiro, um filho, toda essa ênfase em Abrão desejar um herdeiro, um filho, é porque Deus é um Deus que trabalha por meio das gerações.
Lemos em Gênesis capítulo 17.6: “far-te-ei frutificar sobremaneira, e de ti farei nações, e reis sairão de ti”. “Far-te-ei extraordinariamente fecundo”; e no verso 7 diz: “estabelecerei o meu pacto contigo e com a tua descendência depois de ti em suas gerações, como pacto perpétuo, para te ser por Deus a ti e à tua descendência depois de ti”. Vemos a ênfase de Deus sobre as gerações. O contexto aqui, alguém pode dizer, é sobre a promessa da terra de Canaã. Ora, isso restringiria a promessa a uma terra física que Deus daria à descendência de Abraão, mas não é assim. É verdade que esta promessa trata da promessa física de uma terra, mas não apenas a promessa da terra de Canaã. Ao mesmo tempo, é uma referência sobre abençoar todas as famílias da terra por meio da descendência de Abraão. Também fala sobre Jesus Cristo que virá, fala sobre uma aliança perpétua, eterna, no decurso das gerações de Abraão. À luz do Novo Testamento, podemos ver isso como uma referência à obra de Jesus Cristo, o Grande descendente de Abraão, mas também podemos pensar em Romanos 4, onde Paulo diz que todo crente hoje é descendente do pai Abraão, o pai dos crentes. Portanto aqui se refere também, a uma obra maior do que simplesmente uma promessa de uma terra física, e, nesse contexto, Deus ordena um sinal da aliança: a circuncisão. Ela vai servir como símbolo do povo que pertence a Deus.

A circuncisão não é apenas a marca de uma descendência física, é um sinal da aliança entre Deus e seu povo: “Circuncidar-vos-eis na carne do prepúcio; e isto será por sinal de pacto entre mim e vós” (Gênesis 17.11).

Então não é apenas uma marca étnica, de um povo físico, mas é um símbolo de que aquele bebê tem um relacionamento com Deus, de que ele faz parte de um povo que tem um relacionamento, uma aliança com Deus. Não é qualquer bebê, não é qualquer criança, mas alguém que faz parte da descendência da mulher. Lembramos-nos que em Gênesis 3.15 só existem dois tipos de pessoas no mundo após a queda: a descendência da mulher, os crentes, a Igreja, e a descendência da serpente, aqueles que servem ao diabo, os pecadores que não são salvos.

Toda a história do Antigo Testamento é um registro da história da redenção de Deus. Deus sempre está tomando cuidado em proteger e preservar a descendência da mulher até o nascimento de Jesus trabalhando por meio das gerações. Por exemplo, a mulher, no Antigo Testamento, ficava muito triste por não poder dar à luz, por ser estéril. Isso tem tudo a ver com aquela promessa da vinda do Senhor Jesus Cristo e o fato de Deus trabalhar por meio das gerações.

Êxodo 20
Vemos em Êxodo capítulo 20 a descendência de Adão que está acabando de sair do Egito e Deus reafirmando sua aliança com Ele. Notem, em primeiro lugar, que os dez mandamentos em Êxodo 20 são palavras de vida, palavras de promessa. Muitas pessoas acham que os mandamentos de Deus é uma coisa chata, uma coisa que pesa sobre os seus filhos, não é assim. Deus começa com um prólogo: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão” (Ex. 20.2). Então Deus, no prólogo dos dez mandamentos se apresenta como o remidor, o Redentor do seu povo. Ele diz: “Eu Sou o Senhor que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão”. Ora, se Deus tirou o seu povo da casa da servidão, como seria possível Ele, logo depois, dar os dez mandamentos a este povo como um peso, como algo que escraviza? Não teria sentido.
O que Deus está dizendo no capítulo 20 de Êxodo é: “Eu vos libertei, eis como vocês podem e devem viver plenamente para a liberdade para a qual Eu vos libertei”. O que é importante para o nosso estudo são os versos 5 e 6 quando se menciona o segundo mandamento. No final do capítulo 20.5 e 6, Deus se descreve: “porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam; e uso de misericórdia com milhares dos que me amam e guardam os meus mandamentos”. Mais uma vez vemos Deus atuando por meio de gerações. Veja que esta tradução está dizendo: “uso de misericórdia com milhares”, isso é literalmente o hebraico; o hebraico não coloca na segunda parte a palavra “geração”. Então essa tradução é mais fiel. Hoje há traduções mais fiéis em algumas partes. Nós temos um versículo muito parecido em Deuteronômio 7.9: “Saberás, pois, que o Senhor teu Deus é que é Deus, o Deus fiel, que guarda o pacto e a misericórdia, até mil gerações, aos que o amam e guardam os seus mandamentos”. Aqui a palavra no hebraico é “geração”. Portanto, no verso 6 do capítulo 20 de Êxodo a palavra “geração” fica subentendida. Isso é importante para deixar o texto em português mais claro. Não é um amor que é para milhares de pessoas soltas, independentes, mas é um amor que vem por milhares de gerações, “mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos”.

Então, mais uma vez Deus se revela como um Deus que trabalha, que age por meio das gerações. Mas isso não se restringe ao povo físico de Israel, ou à época Mosaica, mas já vimos esse caráter de Deus no primeiro capítulo da Bíblia, que Deus trabalha por meio das gerações.
Um princípio fundamental da verdade bíblica é que Deus é imutável, Ele não muda, sempre tem sido e sempre será o mesmo Deus. Se Deus sempre se revelou no Antigo Testamento como o Deus das gerações, Ele hoje continua sendo o mesmo Deus das gerações. Negar isso seria marcianismo, um erro antigo do segundo século, que afirmava que o Deus do Antigo Testamento era diferente do Deus do Novo Testamento.
Temos ouvido a seguinte objeção: “A circuncisão é apenas a marca física que evidencia alguém pertencer ao povo de Israel, não diz nada a respeito de se ter um relacionamento vivo com o Senhor, não é o selo da fé no coração ou um sinal de um coração regenerado”. Isso é o que os anabatistas usam como argumento contra tudo que afirmamos. Nada é mais longe da verdade.

Em primeiro lugar, muito embora os israelitas quase nunca mantivessem a aliança fielmente em toda sua história, mesmo assim, a aliança com Abraão, e mais tarde reafirmada por meio de Moisés, tomava como pressuposto que somente os israelitas fiéis deveriam permanecer no meio do povo. Isso é importante porque um anabatista iria logo dizer que, no Antigo Testamento, qualquer pessoa poderia fazer parte do povo de Deus. Bastava apenas ter uma descendência física, uma marca física e isso era o suficiente; diria que não havia necessidade de se ter um relacionamento vivo com Deus. Mas a Bíblia não diz isso.
Biblicamente, as pessoas que não queriam servir a Deus, que não queriam manter obediência aos seus mandamentos, deviam ser cortadas do povo de Deus. A Bíblia fala muitas vezes sobre cortar o ímpio do meio do povo de Deus. Isso, em termos modernos, chamaríamos de excomunhão, mas naquela época eles faziam isso por meio do ato de matar, apedrejar a pessoa.

Então a marca da circuncisão não era apenas para aqueles que apenas eram descendentes físicos do povo do pacto, mas era preciso também ter fé em Deus, amor para com Deus; fé nas promessas da aliança. Por exemplo, Isaque,  Jacó e Esaú, receberam o sinal da aliança neles mesmos, mas a descendência de Esaú não recebeu. Se fosse apenas uma descendência física, todos os israelitas e todos os descendentes de Esaú teriam recebido também a marca da aliança, mas eles não receberam porque rejeitaram o serviço de Deus e por isso perderam o direito de circuncidarem seus filhos para serem filhos de Deus, filhos da aliança. Então é um erro, uma confusão da parte dos anabatistas dizerem que apenas a descendência física era necessária, mas um coração disposto a servir a Deus também era necessário.
Em segundo lugar: o Antigo Testamento está repleto de afirmações da parte de Deus de que Ele buscava um relacionamento pactual com o Seu povo que ia muito além de uma mera definição e distinção física. Vejamos um exemplo em Deuteronômio 5.29: “Quem dera que eles tivessem tal coração que me temessem, e guardassem em todo o tempo todos os meus mandamentos, para que bem lhes fosse a eles, e a seus filhos para sempre!”.

Veja como Deus faz um relacionamento estreito com o povo do pacto para servi-lO de coração e conseqüentemente serem abençoados junto com os seus filhos. É mais uma vez Deus trabalhando com famílias, com gerações. Continuando no capítulo 6:2 (Dt), vemos que Deus manda o povo guardar a aliança: “Para que temas ao Senhor teu Deus, e guardes todos os seus estatutos e mandamentos, que eu te ordeno, tu, e teu filho, e o filho de teu filho, todos os dias da tua vida, e para que se prolonguem os teus dias”. No versículo 5 lemos: “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças”. Vemos, portanto, no contexto, que o que Deus quer que seja ensinado ao israelita e ao filho de seu filho não é apenas algo referente à promessa da terra física, mas também uma referência clara a servir ao Senhor e ter um relacionamento de vida com Ele.

O que Deus quer para ti, teu filho e o filho de teu filho? Ele quer o que é dito em Deuteronômio 6.5: “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças”. Jesus cita isso no Novo Testamento para dizer que é um resumo daquilo que Deus exige do homem. Essa exigência não se restringe ao povo físico de Israel na terra física de Canaã, mas tem a ver com o relacionamento que o crente deve ter com Deus. Ainda hoje Deus requer o mesmo amor de nossa parte: “E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as ensinarás a teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar-te” (Deuteronômio 6.6,7). E nos versículos 20-25, Deus fala que os filhos são considerados participantes, membros do povo redimido de Deus porque Eles também se identificam como membros de um povo que foram tirados do Egito mesmo eles nascendo muitos anos depois:

20Quando teu filho te perguntar no futuro, dizendo: Que significam os testemunhos, estatutos e preceitos que o Senhor nosso Deus vos ordenou? 21responderás a teu filho: Éramos servos de Faraó no Egito, porém o Senhor, com mão forte, nos tirou de lá; 22e, aos nossos olhos, o Senhor fez sinais e maravilhas grandes e penosas contra o Egito, contra Faraó e contra toda a sua casa; 23mas nos tirou de lá, para nos introduzir e nos dar a terra que com juramento prometera a nossos pais. 24Pelo que o Senhor nos ordenou que observássemos todos estes estatutos, que temêssemos o Senhor nosso Deus, para o nosso bem em todo o tempo, a fim de que ele nos preservasse em vida, assim como hoje se vê.25E será justiça para nós, se tivermos cuidado de cumprir todos estes mandamentos perante o Senhor nosso Deus, como ele nos ordenou.

O que queremos dizer é o seguinte: os capítulos 5 e 6 de Deuteronômio deixam claro que os filhos pertencem ao povo de Deus, participam plenamente do pacto da redenção de Deus e que juntos com o povo inteiro tinham a obrigação de, no Antigo Testamento, amar ao Senhor de todo coração. Então o anabatista sempre afirma: Não, no Antigo Testamento a descendência é apenas física, apenas faz parte do povo, é alguma coisa puramente étnica, não é algo que tenha a ver com relacionamento com Deus. Pensando assim, os anabatistas não sabem o que dizem, não conhecem com amplitude o que a Bíblia diz sobre esse assunto.

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