por James Montgomery Boice
Eu não prego sermões para crianças. Eu sei que os pais gostam muito desses sermões, e que eles são uma parte muito importante dos cultos de domingo na maioria das igrejas evangélicas. Mas eu não gosto deles. Deixe-me explicar por quê.
A primeira razão é que os sermões para crianças distraem as pessoas no culto de adoração a Deus. Estes sermões infantis têm como objetivo envolver as crianças no culto de louvor a Deus, oferecendo algo apropriado à sua idade. Porém o efeito disso, seja ele intencional ou não, é de focalizar a atenção dos adultos nas crianças, e isso não é para ser feito quando vamos à igreja. Nós deveríamos estar focalizando a atenção em Deus. Eu acho que, quando as crianças são convidadas a vir à frente para ouvir algumas palavrinhas bonitas do pastor, todos os adultos ficam animados e concentram toda sua atenção nas crianças. Eles se divertem. Eles riem. É um momento muito “especial” do culto. No entanto isso não se trata de adoração. Sermões para crianças tiram a atenção das pessoas da adoração, mesmo que tenham sido feitos no começo do culto; na maioria das vezes não acontecem antes do culto propriamente dito. Na prática, os sermões para crianças chegam muito perto de ser idolatria, já que eles convidam a cultuarmos o fruto de nossos lombos ao invés do culto ao Senhor.
Minha segunda razão é que os sermões para crianças são apenas parte (do que tenho visto), de todo um mau caminho pelo qual os cultos têm seguido. Eles são parte do que nós chamamos de “emburrecer” em outras disciplinas. Deixe-me colocá-lo desta forma. O objetivo que nós deveríamos ter com nossas crianças é de trazê-las ao nível dos adultos – isto é, capacitá-las a começar a agir num nível mais adulto em seu relacionamento com Deus. Porém, ao invés de sermos bem sucedidos nisto, nós temos sido bem-sucedidos em trazer os adultos a um nível infantil. Em muitas igrejas o sermão raramente é apropriado a qualquer mente genuinamente adulta; os corinhos de louvor seriam mais apropriados num encontro de escolas de segundo grau do que no culto ao Deus da Bíblia; e os sermões para crianças provavelmente falam tanto à imaturidade do adulto quanto à criança. Aliás, os sermões para crianças geralmente são voltados para as crianças menores, e as outras crianças são ignoradas.
O argumento de defesa desta prática ruim é que as crianças não conseguem entender o que acontece na igreja. Mas isto não é verdade. Elas podem entender. E mesmo que elas inicialmente não consigam entender o que está acontecendo, nossa tarefa é de ensiná-las a fim de que não só possam como também, de fato, venham a entender. E por que não? Não se leva muito mais tempo para ensinar as crianças a participarem do culto do que se leva para preparar alguns dos sermões para crianças dos quais eu ouvi. Nós pensamos a respeito desse desafio na Décima Igreja Presbiteriana na Filadélfia e desenvolvemos algumas idéias que, cremos, funcionam muito bem.
Em primeiro lugar nós deixamos crianças muito mais jovens do que costumávamos ter participarem do culto. Nós continuamos separando as crianças muito pequenas, para o bem dos pais, como para o bem das próprias crianças. Não queremos que hajam demasiadas distrações para qualquer pessoa. Não obstante, nós mantemos as crianças da segunda série para cima no culto. Eles já lêem nesta idade, assim como participam, e nós cremos que é bom que nossas famílias prestem culto juntas.
Em segundo lugar, nós preparamos um boletim para crianças. Esse boletim é entregue às crianças na mesma hora e local onde os adultos recebem o seu boletim. O boletim infantil contém o texto de partes do culto como o credo dos Apóstolos, e existem barras laterais e pequenos textos adicionais que explicam o que as várias palavras e frases que ocorrem durante o culto significam. A terceira página contém um sumário de um parágrafo sobre o sermão com várias perguntas sobre o mesmo para as crianças mais velhas, e uma sessão chamada “Palavra de Alerta” para crianças mais jovens. “Palavra de Alerta” lista palavras que eles devem prestar atenção durante o desenrolar do sermão.
Em terceiro lugar, tanto eu quanto o responsável pela música, comparecemos a abertura das atividades de escola dominical todo domingo para falar sobre o sermão e os hinos. Eu explico sobre o que estarei pregando e o que as crianças devem prestar atenção. Eu até mesmo peço às crianças que orem por aqueles que não são cristãos, que eles venham a ouvir o que Deus tem a dizer e sejam convertidos. O responsável pela música fala sobre os hinos que nós iremos cantar, seu conteúdo, quem os escreveu e porque nós os cantamos dessa maneira.
A propósito, nós ensinamos hinos às crianças ao invés de corinhos, já que elas aprendem com muita facilidade nesta idade. Nós fazemos com que as crianças memorizem o catecismo infantil e grandes porções das Escrituras também, crendo que é um sério erro desperdiçar o tempo precioso da Escola Dominical com meros joguinhos ou assuntos triviais.
Eu gostaria que outros pastores e outras igrejas repensassem o que estamos fazendo com nossas crianças. Existe mais de uma maneira de evitar com que esses pequeninos tropecem.
Transcrito da revista “Modern Reformation”, edição de novembro e dezembro de 1999.
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