por James A. Thomson
Os ministros que têm uma atitude desanimada
para com seu trabalho deveriam ler novamente estas palavras: “acaso é para vós
outros cousa de somenos que o Deus de Israel vos separou da congregação de Israel,
para vos fazer chegar a si, a fim de cumprirdes o serviço do tabernáculo do
Senhor e estardes perante a congregação para ministrar-lhes?” (Nm 16.9). O que
tinha feito o Senhor a estes homens?
Primeiro, o Senhor “separou” os
ministros da congregação do povo do Senhor. O Senhor os colocou a parte, quando
os escolheu dentre os seus irmãos.
Segundo, “para vos fazer chegar a Si”.
Todo o povo do pacto de Deus habitava na sua presença e usufruía da sua
comunhão. Mas de um modo especial, o Senhor trouxe estes ministros para perto
de Si. Eles foram privilegiados em pôr de lado seus trabalhos normais e
devotar-se a buscar a sua face, a conhecer a sua palavra. “Nos consagraremos à
oração e ao ministério da Palavra” (At 6.4).
Estas coisas o Senhor fez aos ministros.
Qual então, deveria ser sua função? Era basicamente dupla. Primeiro, eles
deviam “cumprir o serviço do tabernáculo do Senhor”. Sob a disposição da Velha
Aliança, isto significava as várias cerimônias, oferendas e deveres ligados ao
tabernáculo.
Depois, em segundo lugar, “deviam
estar perante a congregação para ministrar-lhe”. O ministro recebia a Palavra
do Senhor e então a entregava fielmente ao povo. O ministro ficava como
mensageiro de Deus e pregava a palavra viva de Deus. Ele diligentemente
aplicava aquela Palavra para eles em seus casos e vidas específicos.
O problema era que os “ministros” a
quem se refere Números 16 tinham tudo isto como “uma pequena coisa”. Eles eram
escolhidos pelo Senhor, separados para o seu serviço, incumbidos da administração
do tabernáculo, encarregados da pregação da Palavra de Deus – tudo isso, e eles
consideravam “coisa de somenos!” O episódio sugere lições importantes para nós
hoje.
Uma visão pobre do ministério não é
precisamente culpa da igreja ou da sociedade. Sugerimos que os ministros do
evangelho devem recordar seu honroso chamado com mais freqüência. Como Paulo,
eles fariam bem em “Glorificar seu ministério” (Rm 11.13). Possa o Senhor da
igreja que é o Senhor de tudo, renovar seus servos em seu alto e nobre chamado!
Possa ele encher seus corações com fogo e suas colunas dorsais com aço! Possam
os ministros não verem a si mesmos, “ajudantes de carreira” na sociedade, nem
como “gerente de pessoal” na igreja, mas possam eles verem-se a si mesmos como
escolhidos, ungidos e honrados pelo Senhor.
O ministério é uma honra advinda do
Senhor Jesus Cristo. Uma visão bíblica do ministério da Nova Aliança deve
começar com Efésios 4.11: “E Ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para
profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres”... “Para o
trabalho do ministério”. O pastor–mestre é um dom do Senhor que ascendeu, para
a Sua igreja. Como I Tm 1.12 coloca: ”Sou grato para com aquele que me
fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me
para o ministério“. Que honra advinda de Cristo Jesus, ser colocado no
ministério e depois ser habilitado para realizar a obra da sua graça! John
Brown podia dizer que o ministro é ”por Cristo designado, dirigido, sustentado
e recompensado“. Que honra inexprimível ser tão completamente dependente do
Senhor da Glória!
Um dos ministros da Nova Inglaterra
olhou para trás com humildade quando se comparou a Davi no Salmo 78.70: “Também
escolheu a Davi, seu servo, e o tomou dos redis das ovelhas”. “O idoso pregador
não viu qualquer razão por que o Senhor o teria tirado do seu ”aprisco“ e o
honrou com um ministério frutífero para muitas almas. Se qualquer ministro mantiver
este avançado conceito, que o Senhor o elevou ao ministério por sua graça, isto
fará muito para mantê-lo afastado de uma visão pobre do pregar.
Jonathan Edwards pregou um memorável
sermão, “A Verdadeira Excelência de um Ministério do Evangelho”. Ali ele
mostrou como Jesus havia honrado João Batista, (Jo 5.35): “Ele era a lâmpada
que ardia e alumiava”. E assim, solicitou Edwards, todo ministro deve lutar
para brilhar, pois Cristo “aprecia grandemente” seus ministros. Edwards também
chamou a atenção para os filhos de Eli que não cumpriram seu ofício. “Eu o
escolhi dentre todas as tribos de Israel para ser meu sacerdote, para subir ao
meu altar, para queimar o incenso e para trazer a estola sacerdotal perante
mim; Por que pisais aos pés os meus sacrifícios?” (I Sam2. 28,29 a ). Vemos nestes
filhos de Eli o mesmo coração existente em Coré, o coração que vê levianamente
a grande honra do serviço para o Senhor.
O ministro de Cristo deveria olhar
para o seu ofício com o mesmo apreço com que o próprio Mestre o faz. Fazer
qualquer coisa menos é desonrar seu nome e ter uma visão pobre do privilégio
que lhe é conferido. O ministério é um nobre chamado. Paulo não hesitou em
dizer: “Eu magnífico o meu ofício”. Jeremiah Burroughs escreveu: “A obra do
ministério é uma grande obra... Cristo a considera uma coisa importante... oh,
que aqueles, então, que estão no ministério considerem isto uma obra poderosa e
importante, como uma tarefa solene”. Se Moisés diz que é uma grande coisa, e
Paulo supremamente, Cristo, então quem somos nós para ter visão pobre do
ministério cristão? Dr. Martin Lloyd –Jones deixou um exemplo encorajador para
os ministros. Ele deixou uma carreira médica promissora e ainda testificou ao
longo de sua vida que não viu isto com sacrifício. Ao contrário, sentiu-se
profundamente privilegiado em ter sido chamado para ser ministro do evangelho.
Através dos anos, muitos pregadores desanimados chegaram à sacristia da capela
de Westminster e saíram com uma visão elevada do ministério e não menos do seu
próprio ministério.
Em sua exposição de Efésios, Dr. Lloyd–Jones
afirma: “Este é o significado e o propósito do ministério. Esta é a minha
função como um pregador e mestre, fui chamado para fazer isto. Passei meu tempo
lendo este livro e tentando expô-lo. Esta é a razão porque vocês devem vir e
ouvir”. Oh, que todos os ministros possam manter esta atitude com relação ao
ministério e não hesitar em dizer assim ao seu povo! Faria um grande bem para
nós relembrar o que Latimer disse uma vez para um homem que cinicamente afirmou
que pregar “de nada adianta”. Latimer replicou: “Esta é uma resposta perversa,
mui perversa”.
O ministro deve clamar ao Senhor para
revigorá-lo com um devotamento paciente para a grande obra. Se existe uma
porção da Escritura inerrante para a qual ele deve voltar-se, é I Co 4: “Assim,
pois importa que os homens nos considerem como ministros e despenseiros dos
mistérios de Deus... nos tornamos espetáculo... somos loucos por causa de
Cristo... desprezíveis... sendo injuriados... caluniados... escoria de todos”
(I Cor 4.1-13). Aqui está um ministro que sabe, ele próprio, ter sido designado
por Cristo e comissionado com os mistérios do evangelho. Que grandiosa coisa!
E, contudo, que coisa pequena é aos olhos do mundo – algumas vezes também aos
olhos da igreja. Que pode fazer e dizer o ministro? “O que se requer dos
despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel”.
No final, o que importa é a fidelidade
ao Senhor. “Quem é, pois o servo fiel e prudente, a quem o senhor confiou os
seus conservos para dar-lhes o sustento a seu tempo? Bem aventurado aquele
servo a quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim” (Mat 24.45,46).
O ministro, porém, pode perguntar:
“Senhor, se tu tens me enviado e eu estou falando fielmente, por que esta
grande obra parece não ser bem sucedida?”. Aqui o ministro deve permanecer com
Paulo: “Eu plantei, Apolo regou; mas o crescimento veio de Deus... cada um
receberá o seu galardão, segundo o seu próprio trabalho” (I Cor 3.6,8). O
Senhor da seara o enviou para plantar, mas não para ver uma vasta colheita?
Então, seja devotado à honra de plantar e regar para o Senhor. Spurgeon uma vez
colocou assim: “Sua esfera pode ser muito limitada. Isto não importa; mas
importa que você seja fiel ao Senhor”. Ministro seja devotado a sua grande
obra, pois não há “coisa pequena” a ser encontrada, fazendo o que o Senhor o
enviou a fazer.
Como em nossos dias veremos um retorno
a uma visão elevada do ministério? Deveria começar com o próprio ministro. Ele
deve ter a ousadia dada por Deus para permanecer diante do povo de Deus,
sabendo em sua própria consciência que ele é um ministro de Cristo. “Ele me
enviou para falar e mostrar para vocês grandes coisas da sua Palavra. Por isto
é que vocês devem ouvir”.
Hoje não vemos o parlamento sentado
aos pés de um Owen. O povo de Boston não se extasia mais com as palavras de um Jonh
Cotton. Mas, os ministros ainda são honrados quando verdadeiramente servem a
Cristo. Possam os servos do Senhor magnificar seus ofícios por suas vidas
santas, por sua pregação poderosa e por seu devotamento à maior obra de todas!
Possam as igrejas apreciá-los altamente, em amor, por causa do trabalho que
realizam (I Ts 5.13)!
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