Diferença entre o povo de Deus no AT e no NT
Por fim, qual é a diferença entre o povo de Deus do Antigo Testamento e do Novo Testamento. Estamos enfatizando muito as semelhanças, as coisas em comum que permanecem entre os dois.
Iniciemos falando em primeiro lugar quais são as semelhanças entre o Antigo e Novo Testamento com respeito ao povo de Deus. Por exemplo, é um erro muito comum pessoas colocarem uma falsa dicotomia entre físico e espiritual. É um erro profundo. Wayne Grudem, por exemplo, que tem uma Teologia Sistemática em português, comete esse erro quando aborda a questão do batismo infantil. Nesse caso ele enfatiza que circuncisão e batismo são coisas diferentes; ele enfatiza muito a dicotomia entre físico e espiritual. Ele diz que no Antigo Testamento, entrar na igreja era algo físico e externo, mas no Novo Testamento é algo voluntário, espiritual e interno. Isso é uma falsa dicotomia.
Ora, fazer parte da igreja no Antigo Testamento não era apenas algo físico e externo. Grudem afirma que uma pessoa fazia parte do povo de Deus se nascesse de pai judeu. É bem claro que isso não é verdade! Vemos que um pai judeu que não vivia em obediência à aliança tinha que ser cortado do “corpo”. Se o povo tivesse cumprido todas as leis de Deus em Israel estariam sendo fiéis à aliança. Deuteronômio 5.9 fala que Deus buscava amor e temor no coração do seu povo. Ele exorta e chama seu povo para serem circuncidados de coração. Isso não é algo do Novo Testamento, mas também do Antigo Testamento. Deus nunca revelou que basta se ter um relacionamento físico, uma identificação física, para se fazer parte do Seu povo. Nunca, nunca, nunca no Antigo Testamento isto é evidenciado como suficiente. As pessoas que não amavam a Deus, que não cumpriam a aliança, não teriam direito a fazer parte da aliança.
Números 16: 24.
“Fala a toda esta congregação, dizendo: Subi do derredor da habitação de Coré, Datã e Abirão”. Coré, Datã e Abirão queriam comandar o povo de Israel e não queriam respeitar a liderança de Moisés. Finalmente eles são castigados. Como? “A terra debaixo dele se fendeu, abriu a sua boca e os tragou com suas casas, como também todos os homens que pertenciam a Coré e todos os seus bens e todos os que lhe pertenciam, também mulheres e crianças desceram vivos ao abismo a terra os cobriu e pereceram no meio da congregação” (v. 31):
Três homens rebeldes contra Deus ficam como representantes de Deus na igreja do Antigo Testamento, Deus mata-os e a seus filhos por causa da disciplina eclesiástica de Deus sobre eles. Seus filhos também são separados da igreja. A excomunhão daquela época era uma forma um pouco mais forte que hoje em dia. Hoje os excomungados continuam vivos, mas naquela época era através da morte porque a igreja e o estado eram a mesma coisa. No Velho testamento, a única maneira de alguém ser excomungado da igreja era tirá-la da sociedade civil também através da pena de morte. Nós vemos aqui que os filhos dos judeus não faziam parte da aliança apenas por serem filho de israelitas, não! Por ser filho rebelde e não querer cumprir a aliança, por querer decidir por si mesmo não amar a Deus conforme Seus mandamentos, ele era tirado do meio do povo de Deus.
Hoje também, habitualmente quando um casal é excomungado, seus filhos pequenos também são tirados do “rol” de membros. A família é tratada como uma unidade incluindo os bebês. Se a família se afastar da igreja, o bebê tem seu nome retirado da igreja. Para muitos isso é algo estranho, porque vivemos quinhentos anos de individualismo e não de corpo. Mesmo assim, quinhentos anos é novidade na história do mundo.
O pecado de Acã
Acã roubou e preservou as coisas que Deus determinou que deviam ser destruídas. E quando Deus chama Josué para exortá-lo, Ele não diz a Josué: “Acã pecou”, mas disse: “Israel pecou, e violaram a minha aliança” (Josué 7:11). Por causa do pecado de um homem Deus castiga todo Israel; atualmente este conceito importante de corporativismo não é conhecido, e isso também infesta a igreja hoje. O veneno do individualismo também está na igreja. Mas nós temos que entender que Deus trata a igreja como um corpo, trata de uma forma corporativa, como uma família, um povo.
No Antigo Testamento, somente através de geração em geração daqueles que amavam o Senhor e guardavam os seus mandamentos é que a aliança continuava. Deus queria um povo circuncidado no coração. Mais uma vez afirmamos que a Igreja no Antigo Testamento não era apenas algo físico e externo, mas também a Igreja no Novo Testamento não era apenas espiritual e interno. Isso parece mais gnosticismo do que religião bíblica. Nós não somos espíritos, mas somos seres humanos (corpo e alma). Paulo em I coríntios 15 afirma que Cristo não somente morreu para nos transformar espiritualmente, mas também com um propósito de transformar os nossos corpos.
O Credo Apostólico fala na ressurreição do corpo, esta é nossa crença. Jesus nos comprou corpo e alma. Pertencer à Igreja no Novo Testamento também deve se externar em nossas boas obras. Paulo, Pedro e Tiago falam nisso. Pertencer à igreja não significar apenas alguma coisa interna, mas deve-se externar nas nossas boas obras para que os ímpios vejam e glorifiquem a Deus. Devemos manifestar o fruto do Espírito, devemos nos dedicar a fazer o bem, devemos manifestar Cristo ao mundo por meio do nosso amor fraternal. Quando o mundo vir nosso amor fraternal, ele saberá que somos discípulos de Cristo. Fazer parte da igreja do Novo Testamento não é ter algo apenas espiritual e interno, isso é a linguagem do monasticismo, uma religião gnóstica, uma religião que não é nada bíblica e sim misticismo.
Fazer parte da Igreja no Novo Testamento é ter uma vida transformada. Então eu não posso concordar com essa falsa dicotomia que se coloca entre o físico e o espiritual. Isso destrói o conceito bíblico do batismo infantil.
Se não houve mudança do Antigo Testamento para o Novo Testamento no que concerne ao físico e o espiritual, qual é a diferença? O que mudou? Será que os filhos dos crentes do VT faziam parte do povo de Deus, mas agora não? Nós já vimos que não! Será que mudou o fato de que Deus atua por meio das gerações? Vimos que não! Deus é imutável. O que mudou? O que mudou foi: Antes de Jesus, era necessário ser judeu ou se tornar um judeu, para fazer parte do povo de Deus. Um gentio podia fazer parte do povo de Deus, mas se tornando um judeu em todos os aspectos e também fisicamente (circuncisão).
Depois de Jesus, pessoas de qualquer idade podem fazer parte do povo da aliança, do povo de Deus. Qualquer pessoa de qualquer cultura ou grupo étnico pode se tornar participante da descendência de Abrão, pode beber daquela seiva e fazer parte da raiz da oliveira, isto é o que mudou.
O anabatista diz que o que muda é o seguinte: “agora não temos mais oliveira”; antes havia uma árvore, mas agora temos uma pessoa aqui, outra pessoa ali.... Mas isso não é bíblico.
Também o que mudou foi o caráter do sinal usado para declarar alguém como membro do corpo da aliança. No Antigo Testamento era um sinal sangrento; era necessário haver sangue e ao ser realizada a circuncisão isso ocorria, pois apontava para o sacrifício na cruz. É preciso derramamento de sangue para haver perdão dos pecados, para haver remissão dos pecados. No Novo Testamento é impossível termos tal o sinal. Derramar sangue na igreja de hoje é blasfêmia contra Jesus; não haver derramamento de sangue porque Jesus foi o único sacrifício realizado uma vez por toda, um sacrifício eficaz. Derramar sangue hoje em dia na igreja seria desprezar e negar a obra de Jesus na cruz; isto é blasfêmia. Portanto, no Novo Testamento é impossível que o sinal seja sangrento. O preço já foi pago, Jesus já derramou o seu sangue uma vez por todos os pecadores eleitos. Por isso, o sinal que declara que alguém está entrando como membro do povo de Deus, sinal que diz que alguém está sendo separado do mundo e agora faz parte do povo da aliança, este sinal é sem sangue; é um sinal de lavagem da separação, da sujeira do mundo pecaminoso. Sinal que significa lavagem pelo Espírito Santo e santidade no Senhor Jesus Cristo.
Por esta razão, Paulo pode chamar os filhos dos crentes de “santos”. Ele faz isso em I Coríntios 7:14: “Porque o marido incrédulo é santificado no convívio da esposa, e a esposa incrédula é santificada no convívio do marido crente. Doutra sorte, os vossos filhos seriam impuros; porém, agora, são santos”. Os anabatistas não conseguem explicar este texto que diz que os filhos agora são santos. Eles não entendem, não entendem igreja, não entendem eclesiologia, a história desde o princípio, a história da redenção, não entendem a aliança, não entendem o que é o sacramento do batismo. Os filhos dos crentes são santos separados do mundo; é isso que Deus declara no momento do batismo dos nossos filhos. Eles pertencem ao povo de Deus.
Então vamos resumir e concluir
Voltando ao Princípio
Deus colocou uma antítese no meio da raça humana, isto foi Sua graça para proteger, para remir uma igreja para sempre. Então, só existem duas partes da raça humana, dois grupos. Nessa antiga e terrível luta não há três grupos apostos, mas apenas dois: a descendência da serpente e a descendência da mulher; aqueles que têm o diabo como pai e aqueles que têm Deus como pai, não há uma terceira opção.
Quando a igreja rejeita o claro ensino bíblico, ela acaba inventando coisas; quando não quer aceitar que os filhos dos crentes fazem parte da aliança e do povo de Deus ela está, de fato, criando um tipo de ídolo. Os filhos dos crentes, no pensamento anabatista, nem são do mundo, nem são da igreja, estão num tipo de limbo. Você sabe que a Igreja Católica Romana inventou o limbo para colocar crianças não batizadas. A diferença é pouca entre a oposição Anabatista e a Católica Romana. Limbo é um lugar que nem é céu e nem é inferno. Você fica lá sem ter a visão de Deus, mas também você não sofre, você fica para sempre.
É para esse extremo absurdo que nos leva o conceito do entendimento anabatista, e ainda pior, quando a igreja recusa abraçar os filhos dos crentes como fazendo parte da aliança de Deus, fazendo parte como membros da igreja, como membros do corpo de Cristo, ela torna a dispensação neotestamentária menos gloriosa que a dispensação veterotestamentária. Em outras palavras, ela está dizendo que o Antigo Testamento foi mais glorioso que o Novo Testamento. Os filhos perderam direitos por causa da vinda de Jesus. Já pensou? A obra de Jesus os colocou para trás e não para frente (segundo eles). Será que no Novo Testamento, depois da vinda de Cristo, depois da Sua obra na cruz, os filhos perderam o privilégio que tiveram antes? Isto entra em choque com o caráter da nova aliança que Paulo apresenta em II Coríntios 3:9-11 quando diz que é mais gloriosa, não menos gloriosa e eficaz.
Finalizando, toda a Bíblia afirma que o lugar dos filhos dos crentes é na aliança, no povo de Deus. Toda a história da igreja também revela o batismo dos filhos dos crentes como uma prática comum. Uma mentira antiga entre os anabatistas, desde a reforma e que é citada até por Calvino, é que o batismo infantil é alguma coisa que surgiu mais tarde na história da igreja, uma novidade do quarto século. Não é verdade! Já nas constituições apostólicas do segundo século que foram escritas para manter a fidelidade da igreja, aqueles que as escreveram, eram bem conservadores, pois estavam com medo de a igreja se desviar. Isto foi há uns cem a cento e cinqüenta anos depois de Cristo. Para manter a tradição da igreja eles falaram sobre várias coisas e dentre elas falaram sobre batismo. Quando eles falam sobre batismo dizem: “...quando chegar no momento do batismo, as crianças devem ser batizadas primeiro”. É algo muito antigo nos documentos da igreja. Não é novidade! Toda história da igreja fala sobre batismo dos filhos dos crentes, como prática.
Que Deus nos perdoe pelo pecado do individualismo e que nos dê condições de enxergar as maravilhas da sua graça na aliança.
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