Batismo Infantil (Parte 3)



Jeremias 32:39-40

Aqui vemos a mesma ênfase. Deus fala sobre a restauração do Seu povo e diz: “E lhes darei um só coração, e um só caminho, para que me temam para sempre, para seu bem e o bem de seus filhos, depois deles; e farei com eles um pacto eterno de não me desviar de fazer-lhes o bem; e porei o meu temor no seu coração, para que nunca se apartem de mim”. E no capítulo anterior o profeta fala sobre o dia no qual Deus vai escrever sua lei sobre o coração do povo: “Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o SENHOR: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (Jr 31:33). O autor da carta aos Hebreus, no capítulo 10, versículo 16 (“Esta é a aliança que farei com eles Depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei no seu coração as minhas leis e sobre sua mente as inscreverei”), aplica esta promessa à igreja primitiva, à igreja do Novo Testamento depois da vinda de Jesus e sua obra na cruz. Então a promessa se cumpre. Depois de Jesus ela é aplicada à igreja, e na igreja, depois da obra de Jesus, Deus escreve sua Lei nos corações de seus filhos. Isso nos conduz ao Novo Testamento.

Novo Testamento

Romanos 11
O que vemos em Romanos capítulo 11? Neste capítulo o apóstolo usa uma ilustração para descrever como é que a desobediência de Israel foi uma bênção para nós gentios. Paulo diz que a transgressão de Israel foi uma benção para os gentios. Diz que, por causa da transgressão de Israel, nós fomos abençoados porque nos deu o direito de fazer parte do povo de Deus. Então ele usa uma ilustração para descrever isso. Por causa da desobediência de Israel, Deus tirou dos israelitas o estado especial de serem os únicos que podiam fazer parte de Seu povo, Sua igreja.
Vejamos como Paulo usa a ilustração. Ele fala sobre de uma oliveira em Romanos 11.17: “E se alguns dos ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado no lugar deles e feito participante da raiz e da seiva da oliveira”. Ele fala aqui sobre uma oliveira que é Israel, fala da raiz, fala da seiva do povo de Deus. Isso é a igreja no Antigo Testamento. Por causa da transgressão dos israelitas contra Deus, contra a aliança, Deus quebra alguns ramos e enxerta os galhos de uma oliveira brava que não faz parte da oliveira cultivada. Essa é a ilustração que Paulo usa para representar a transição de Israel como o único povo de Deus, para uma situação em que todos os gentios recebem o direito de participar do povo de Deus e da Sua aliança. Paulo fala sobre uma oliveira que representa a igreja, ele não diz: “Israel, a oliveira original não presta, Deus arrancou-a e jogou fora e agora plantou outra oliveira que é a igreja que se inicia no dia de pentecostes”. Ele não fala isso. Ele não fala sobre duas igrejas, sobre dois povos de Deus. Paulo diz que de uma única oliveira é tirado ou quebrado vários galhos, o Israel incrédulo daquela época, e enxertado outros galhos que somos nós os gentios. É uma ilustração orgânica. Isso explica porque, no capítulo 4, ele pode dizer que Abraão é o pai dos crentes. Porque Abraão faz parte do tronco, da oliveira, e nós sendo enxertados na oliveira, bebemos da sua seiva. Israel, com exceção do remanescente eleito, foi rejeitado. Por causa dessa rejeição os gentios podem fazer parte do povo de Deus, da igreja. Paulo não diz que Deus plantou uma nova oliveira; ele fala sobre uma única oliveira. Os gentios, que somos nós, somos representados pelos ramos enxertados na oliveira (no meio deles) para que nos tornemos representantes da raiz e da seiva da oliveira. Isso é importantíssimo para nossa eclesiologia.

Nem Paulo, nem nenhum outro apóstolo do Novo Testamento, ensinam que há uma igreja no Antigo Testamento e outra igreja no Novo Testamento. Toda a Bíblia ensina, de fato, que há um povo de Deus desde o início do mundo até o fim, e esse ensino bíblico se manifesta não somente em toda a Bíblia, mas também em muitas confissões da época da grande Reforma. Entre outros, o catecismo de Hidelberg no domingo 21, diz o seguinte: “Creio que o Filho de Deus reúne, protege e conserva dentre todo o gênero humano, sua comunidade eleita para a vida eterna. Isso ele faz por seu Espírito e Sua Palavra, na unidade da verdadeira fé, desde o princípio do mundo até o fim”.

Isso tem sentido. No céu haverá um só povo remido, todos os pecadores remidos por Jesus, desde Adão e Eva até o último eleito que Deus vai juntar à sua igreja. Na teologia bíblica e reformada a afirmação de a igreja ser católica ou universal se aplica não somente à sua extensão geográfica, mas também à sua extensão no culto de todos os tempos.

Qual é a conseqüência dessa unidade da igreja de Cristo de todos os tempos? Uma conseqüência importantíssima é que a igreja do Novo Testamento tem uma ligação orgânica com a igreja do Antigo Testamento. Romanos 11 deixa isso claro. A aliança é reafirmada, é renovada pelo sangue de Jesus, e aquelas promessas que Deus fez por meio dos profetas no Antigo Testamento chegam a se cumprir no Novo Testamento. Jeremias, falou que Deus iria escrever a sua lei nos corações do seu povo e isso se cumpre na igreja do Novo testamento. Hebreus 10 fala sobre isso. O Espírito Santo escreve sua Lei sobre os corações do povo de Deus porque Jesus ganhou o direito de derramar o seu Espírito sobre Sua igreja. Quando entendemos que a morte de Jesus não deu início a uma nova instituição, mas deu ao gentio o direito de participar plenamente na aliança, entendemos melhor a posição das crianças na igreja neo-testamentária.

Matheus 19.13, 14:
13Então lhe trouxeram algumas crianças para que lhes impusesse as mãos, e orasse; mas os discípulos os repreenderam. 14Jesus, porém, disse: Deixai as crianças [pequeninos] e não as impeçais de virem a mim, porque de tais é o reino dos céus.

A palavra aqui para criança, no verso 13 é paidion no grego (“trouxeram-lhe algumas crianças...”) Quando Jesus diz, “deixai os pequeninos”, a palavra é a mesma que no original, significa crianças pequenas, crianças de colo. Então “trouxeram-lhe algumas crianças”, a palavra “trazer” (prosfero) no grego, tem o sentido de guiar pela mão ou de levar, carregar. Então tanto a palavra que se refere à criança quanto ao verbo que o Espírito Santo escolheu aqui, deixa bem claro que são pequenas crianças, bem pequenininhas, então a tradução do verso 14 que diz “os pequeninos” é boa. Como Jesus reage? Será que Ele fala sobre a necessidade dessas crianças primeiramente terem condições de compreender o evangelho e tomarem uma decisão de convidar a Jesus para viver em seu coração? Será que Ele vai falar como falou no sermão do monte: “Ouvistes o que foi dito aos antigos: antigamente os filhos participavam da aliança, porém Eu vos digo: agora somente os adultos podem ser membros da minha igreja, do meu povo”. Será que ele disse isso? Não! Ele disse: “Não as repreendam, não as embaracem, não as impeçam, deixem que elas venham a mim”. Jesus chama as crianças e as abençoa dizendo: “das tais é o reino dos céus”. Notemos bem que Jesus aqui não fala isso sobre crianças em geral, Ele não está dizendo que toda criança no mundo é para vir a Ele porque delas é o reino dos céus. Quem são essas crianças no texto? De quem são essas crianças? Vamos olhar o versículo 1 do capítulo 19: “Tendo Jesus concluído estas palavras, partiu da Galiléia, e foi para os confins da Judéia, além do Jordão”. Nesse contexto, Jesus está na terra prometida, está entre o povo de Deus, o povo da aliança, e por isso Ele pode afirmar o que afirmou; estava no meio do povo que tem relacionamento com Deus. Jesus chama as crianças pequenas que são filhos de pais que pertencem à aliança e diz que essas crianças pertencem ao reino, o Reino dos céus. Ele não deixa nenhuma idéia de que a sua vinda mudou algo que era verdade desde o princípio, não muda a verdade de que Deus, tanto na sua obra de criação, quanto na sua obra de redenção, atua por meio das gerações. Jesus, mostra mais uma vez que isso é verdade também no Novo Testamento.

Atos 2.39
“Porque a promessa vos pertence a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe: a quantos o Senhor nosso Deus chamar”.

Pedro, no dia de pentecostes, declara o evangelho do Senhor Jesus Cristo para que todo aquele que crer em Jesus tenha a remissão dos pecados e receba o dom do Espírito Santo, e essa promessa é para vós outros (v. 39). Qual a promessa? A resposta está no v. 33: “De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis”. É a promessa do Espírito Santo. Pedro está dizendo: Essa promessa é para vós outros, se vocês crerem no Senhor Jesus Cristo. A promessa do Antigo Testamento de que um dia Deus iria derramar o seu Espírito sobre todo o seu povo, essa promessa, é para o povo da aliança. Eles precisavam receber essa promessa com fé. Ele está falando no meio do povo de Israel, que naquela época de transição entre o Antigo e o Novo Testamento ainda era o povo da aliança. Isso é importante! Para esse povo da aliança e para “vós outros e para vossos filhos”, é a promessa. Estamos no contexto do Novo Testamento. Como explicar o fato de se ter uma promessa para os pais e filhos, mas os filhos, infelizmente, precisam esperar, porque de repente houve um retrocesso na historia da redenção e agora os filhos, as crianças, agora têm menos privilégio, agora, depois da vinda de Jesus, do que antes da Sua vinda. Não é assim!

No verso 17 ele cita a profecia: “E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos mancebos terão visões, os vossos anciãos terão sonhos”. Então, todo o povo da aliança vai participar daquela promessa que Deus vai dar finalmente, por causa de Jesus, de derramar o seu Espírito sobre a igreja. É todo o povo da aliança: pais, mães, jovens, meninos e meninas, filhos e filhas, plenamente fazem parte dessa aliança e por causa disso, eles participam plenamente das promessas. Não somente aqueles que fazem parte da aliança, por serem judeus, têm a promessa, Pedro está se referindo aqui aos que são judeus, pessoas da aliança, mas não somente a eles.

Pedro diz no verso 39: “Porque a promessa vos pertence a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe: a quantos o Senhor nosso Deus chamar”. O que isso significa? Os rabinos costumavam chamar os gentios de pessoas que “estão longe”. Pedro afirma aqui que Deus vai chamar gentios para fazerem parte do Seu povo, da sua aliança, para participarem da promessa do Espírito Santo, e será que esses gentios vão ter um lugar inferior aos judeus? Os judeus faziam parte da aliança. Seus filhos faziam parte desta aliança, mas isso não era para os filhos dos gentios cristãos? 

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