Batismo Infantil (Parte 4)



Batismos Nas Casas


À luz de toda a história da redenção no Antigo Testamento podemos então entender como foi possível realizar o batismo de alguém com toda a sua casa. Várias vezes o Novo Testamento, por exemplo, em Atos 10, que fala sobre à casa de Cornélio, nós vemos alguém se converter e ser batizado com toda a sua casa. O anabatista vai dizer: você não pode provar que tinha bebês naquela casa, mas isso não é relevante para o que falamos. Se havia ou não bebês naquela casa não é a coisa mais importante, o importante é ver que Deus continua trabalhando da mesma forma, por meio das gerações, tratando com laços familiares, com famílias. Ele não é um Deus com propósitos individualistas. Infelizmente nós vivemos num tempo do individual. Individualismo é uma novidade na história do homem. Desde a Renascença e especialmente depois do Iluminismo, esta ênfase sobre o individual recrudesceu. Mas, desde a criação dos nossos primeiros pais, o individualismo é algo anormal à visão bíblica e aos olhos de Deus. A confissão de Josué, por exemplo, de que “eu e a minha casa serviremos ao Senhor”, não é algo que se restrinja à época quando a igreja estava limitada ao povo físico de Israel. Em Atos dos Apóstolos vemos vários exemplos de “eu e a minha casa (toda a família) seremos recebidos na igreja de Cristo”. Isto é o importante.
           
Cartas de Paulo

Nós vemos nas cartas de Paulo que ele trata de uma forma muito natural, o fato de as crianças fazerem parte da igreja. Ele afirma em na epístola aos Efésios, nos versículos 1-2: “Paulo, apóstolo de Jesus Cristo por vontade de Deus, aos santos e fiéis em Cristo Jesus”. Vejamos como Paulo se dirige a esta igreja. Ele se dirige aos “santos e fiéis”, ou seja aos separados. Ele se dirige aos “santos” que vivem em Éfeso, “aos e fiéis em Cristo Jesus”. Repito, Paulo esta falando à igreja, e a chama de igreja de “santos e fiéis em Cristo Jesus”. E dentro desta epístola, no capítulo 6, versículo 1, o apóstolo dirige a alguns chamando-os de “filhos”. Naturalmente Paulo trata aqui dos filhos, como fazendo parte destes “santos e fiéis em Cristo Jesus”, e exorta-os a obedecerem aos seus pais no Senhor. Como é possível dizer a uma criança que não se sabe se ela é ou não regenerada, ou se ela é ou não membro da igreja, e ao mesmo tempo exortá-las obedecer ao Senhor? Ora, se dissermos a alguém que ele tem de fazer alguma coisa, que tem de agir de conformidade com Lei do Senhor, fica subtendido que já sabemos que ele faz parte do povo de Deus, da Igreja, do corpo de Cristo.
A palavra que Paulo usa aqui em Efésios 6 para “filhos” é a palavra grega “teknon”. Não é a mesma palavra para pequenas crianças, mas é uma palavra que se refere, em geral, alguém que está sob a dependência dos pais. Paulo está se dirigindo a todo filho que tem um relacionamento de dependência a algum crente naquela igreja de Éfeso. É claro que ele se refere às crianças. Isso é o sentido de “teknon”, filho, aqui no capítulo 6. Então, Paulo se dirige às crianças na igreja tratando-as como fazendo parte dos santos e fiéis em Cristo Jesus. Dessa forma as orienta a viverem vidas obedientes no Senhor.

1 Pedro 2.9,10: 
“Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós que outrora nem éreis povo, e agora sois de Deus; vós que não tínheis alcançado misericórdia, e agora a tendes alcançado”.

Pedro aplica à igreja neotestamentária as prerrogativas que Deus atribui a Israel no Antigo Testamento. Ele aqui cita vários textos e descrições do Antigo Testamento, que se aplicavam à igreja no Antigo Testamento, ao povo de Israel. Sem a menor preocupação Pedro toma essas descrições a respeito de Israel e as aplica à Igreja. Por que ele pode fazer isso? Por causa da oliveira. Aqui nos lembramos de Romanos 11. Havia uma ligação entre Israel e a igreja do Novo Testamento. A igreja neotestamentária não é um povo que toma o lugar de Israel, mas a igreja neotestamentária é Israel, faz parte de Israel. Os gentios foram enxertados na oliveira. Existe uma ligação orgânica entre o Israel no Antigo Testamento e a igreja no Novo Testamento. Esta igreja faz parte daquela. Jesus não morreu na cruz para juntar uma igreja que é uma coleção de indivíduos. Ele veio, diz Mateus, para salvar o Seu povo dos seus pecados, todo Seu povo.
É importante observar que Pedro usa vários termos que se referem à igreja como povo. No versículo 9 ele usa a palavra “raça”. Uma raça não é uma coleção de indivíduos “soltos”. Como chamar de nação um grupo de adultos soltos que não tem nenhum laço familiar? Não existe nenhum povo, nenhuma raça, nenhum grupo étnico na face da terra, em toda a história desse mundo, que negue aos seus filhos o direito de fazer parte de uma determinada nação. Mas é isso que algumas pessoas querem fazer na igreja de Cristo. É algo espantoso quando alguém afirma isso com respeito ao povo de Deus. Estas pessoas parecem fugir do entendimento deste fato à luz das Escrituras. Entendemos o receio de olhar para nossos filhos como fazendo parte do povo de Deus, participando do corpo de Cristo, sendo membros da igreja. Este receio é mais a conseqüência do pensamento renascentista e iluminista do que a conseqüência de uma cuidadosa exegese bíblica. Meu povo é destruído por falta de conhecimento (Os 4:6).

Colossenses 2

Paulo faz uma estreita ligação entre a circuncisão e o batismo (Colossenses 2.11). Mesmo Jesus também foi circuncidado. Paulo falando aos crentes no Novo Testamento, diz: “no qual também fostes circuncidados com a circuncisão não feita por mãos no despojar do corpo da carne, a saber, a circuncisão de Cristo”. O que é circuncisão? Bem, no verso 12 Paulo continua: “tendo sido sepultados com ele no batismo, no qual também fostes ressuscitados pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos”. “Tendo sido sepultado juntamente com ele no batismo”. Então Paulo aqui chama o batismo de circuncisão de Cristo. Por quê? Porque a circuncisão cortava um pedaço do corpo da pessoa (o prepúcio era cortado). Isso significava, entre outras coisas, jogar fora a imundície, a impureza e ser separado para santidade. Então Paulo diz: Vocês também foram circuncidados, vocês também foram separados da impureza, não por meio de uma circuncisão feita por mãos humanas, alguma coisa física feita no corpo, mas por meio de Cristo, ou seja, ser sepultado juntamente com Ele no batismo e também ressuscitado com Ele mediante a fé no poder de Deus.

Vamos considerar algo muito importante: A quem Paulo está falando quando ele diz: “Vocês foram circuncidados com a circuncisão de Cristo, vocês foram batizados”. Resposta: Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por vontade de Deus que o irmão Timóteo aos santos e fiéis, irmãos em Cristo.... Isso nos lembra Efésios capítulo 1 e 6, quando Paulo usa a mesma expressão, “santos e fiéis”. Então, ele inclui os filhos (teknon), descendência física, aos santos e fiéis irmãos em Cristo. Portanto, ele está se dirigindo ao povo de Deus, ao povo da aliança, à igreja. Não era novidade para Paulo. Por isso não faz muita menção sobre isso, pois desde o início da obra de Deus existiu sempre o princípio de que os filhos, juntos com seus pais que crêem no Senhor, fazem parte do povo de Deus. Para uma coisa que é natural não há necessidade de muita ênfase.

Este pressuposto é evidenciado da mesma forma quando Paulo não faz muita menção da mulher participar da Santa Ceia, porque sempre foi assim. O apóstolo inclui os filhos, as crianças, no povo de Deus. Assim sendo, Paulo está incluindo também os filhos como circuncidados não por intermédio das mãos, mas do despojamento do corpo e da carne, isso é a circuncisão de Cristo, o batismo. Como o batismo pode ser chamado de circuncisão de Cristo? Por que Paulo usa esse jeito de falar? É simples! A circuncisão foi a marca ou o sinal para declarar que aquele que foi circuncidado foi separado da impureza fazendo parte do povo de Deus e que participava plenamente da aliança entre Deus e o povo. Isso era o que declarava a circuncisão.

A circuncisão nunca foi uma declaração do homem para Deus. Nunca! O bebê judeu não estava lhe dizendo, ainda com oito dias: “Eu convido Deus para ser meu Deus”. Deus é que falava com o bebê, dizendo: “Você faz parte do meu povo”. A graça de Deus fazia isso. Deus toma a iniciativa, Ele vai atrás do pecador, o pecador não vai atrás de Dele. A circuncisão sempre foi uma declaração da parte de Deus de que a criança circuncidada pertencia a Ele. Há uma reivindicação de Deus sobre esta pessoa, sobre este bebê, e da mesma forma a circuncisão de Cristo não foi nunca uma declaração do homem para Deus. O batismo, a circuncisão de Cristo nunca foi uma declaração do próprio homem para Deus. Sempre, biblicamente e na história da igreja, tem sido uma declaração da parte de Deus, de que esta pessoa pertence a Ele e faz do povo da aliança a igreja. É Deus quem fala no batismo e não o homem. O homem recebe. Isto é a religião cristã. O homem com mãos vazias recebe. É o paganismo e toda falsa religião que mostra o homem vindo com as mãos cheias tentando subornar a Deus e procurando uma forma própria para viver o supostamente certo.

O conceito do Iluminismo que já começara com a Renascença nos trouxe o conceito de uma igreja composta de indivíduos isolados, independentes uns dos outros. Mas toda a história da redenção (desde o princípio) e toda a Sagrada Escritura entram em choque com este conceito individualista. À luz da Bíblia a igreja é o povo de Deus. Os filhos de Deus são suas famílias de geração em geração, é isto o que a Bíblia ensina.

Na Reforma Protestante houve três divisões. Na luta da Reforma não havia apenas protestantes e Católicos Romanos envolvidos. Mas havia três correntes. Havia a Igreja Católica Romana que tinha se desviado da Palavra de Deus, havia outra reação contra ela que era um movimento da reforma radical que chamamos também de Anabatista. A meta deles era mais ou menos a seguinte: Qualquer coisa que a Igreja Católica Romana fizer nós vamos fazer o oposto. Era mais ou menos isso, uma forte reação contra os Romanistas. Mas a Reforma, a Igreja Reformada não queria reagir apenas contra a Igreja Católica Romana, queria acima de tudo voltar à Palavra, que era o padrão, a regra para aferir as coisas. Será que devemos fazer o contrário de tudo que a Igreja Católica Romana faz? Não! O que devemos fazer é sempre voltar para a Palavra de Deus e analisar toda a prática da Igreja Católica Romana à luz das Escrituras. O que não cabe devemos jogar fora, o que é bom à luz da Palavra de Deus, devemos manter. Esta é a prática Reformada, sempre Sola Scriptura, somente a Escritura como a única regra de fé e prática. Então o movimento Anabatista entende a igreja como uma coleção de pessoas individualmente, mas isso não é um conceito bíblico.

Nenhum comentário: