Lamentação

O livro de Lamentações era lido em público todos os anos no dia nove do mês Ab, em meados de julho, durante as comemorações da destruição do Templo de Jerusalém.

Nele o autor, Jeremias, chora a destruição de Jerusalém e a desolação de Judá em 587 a.C. – Igreja do VT e expõe um triste comentário dos sofrimentos dos judeus durante e após o cerco da cidade de Jerusalém. O profeta faz uma confissão representativa do pecado da nação, sua rebeldia e sua apostasia. Para Jeremias, esta tinha sido a causa da queda de Judá. O profeta foi de alguma forma testemunha ocular da calamidade que caiu sobre Judá em 587 a.C..

O livro trata da soberania de Deus, da Sua justiça, da moralidade do povo, do julgamento divino e da esperança de bênção futura. Trata da questão do sofrimento a nível nacional e por isso podemos ver um paralelo com a Igreja de hoje. Jeremias sabia muito bem a causa da miséria que se abatera sobre a Igreja: (1) Judá, o povo da aliança, estava em apostasia há muito tempo, mas vivia indiferente em seus pecados. (2) O povo de Judá ignorava as duras lições ensinadas pelo cativeiro do reino do Norte que cometera os mesmos pecados. (3) O povo havia repudiado a aliança persistindo no engano do falso e corrompido paganismo em lugar de abraçar as exigências do Pacto.

Durante gerações Deus tinha advertido freqüentemente pelos profetas que isso resultaria em punição drástica, mas o povo e a liderança não deram ouvidos.

Lamentações é um comentário triste sobre a convicção profética de que quem semeia vento colherá tempestade. “Justo é o Senhor, pois me rebelei contra a sua palavra” (Lm 1:18).

Caiu um forte sentimento de pecado e de culpa sobre a Igreja, com tudo o que aconteceu — destruição de Jerusalém: “Jerusalém pecou gravemente, por isso se tornou repugnante” (Lm 1:8). O povo sentiu que estava em pecado (Lm 3:40). Mas, dentro deste contexto de pecado há uma nota triste: os pastores pregaram falsamente: “Os teus profetas te anunciaram visões falsas e absurdas e não manifestaram a tua maldade, para restaurarem a tua sorte; mas te anunciaram visões de sentenças falsas, que te levaram para o cativeiro” (Lm 2:14).

Aqui há a citação de um grave problema da Igreja de hoje: Os pastores “não manifestam a tua maldade, para restaurarem a tua sorte” – a pregação da Palavra. Por isso o profeta Jeremias confessa todo o pecado em lugar do povo apóstata e dos seus líderes; ele tem em mente a corporatividade do pecado: “como é o povo, assim é o sacerdote” (Os 4:9). O pastor deve reconhecer isso como guia do rebanho; deve clamar pelas ovelhas pedindo o perdão de Deus e a restauração da Igreja.

Por isso o profeta CHORA pelo povo e seus pecados, mas avista um clarão de esperança em meio às densas trevas. Judá, a Igreja, ainda pode ser restaurada e renovada. O profeta se apega à certeza de que Deus sempre cumpre as promessas da aliança (Lm 3: 19-39).

Precisamos de Jeremias hoje, que não usem os púlpitos para fazer pequenas reflexões e apenas “compartilhar” com seus ouvintes alguns textos, mas proclamar com autoridade e fidelidade todo conselho de Deus denunciando o pecado e confortando o povo com a esperança de perdão. O pastor deve chorar por uma Igreja que quebra a aliança de Deus e negligencia a pregação; uma Igreja onde os pastores “rejeitam o conhecimento”, e por isso o povo está sendo destruído (Os 4:6).

Mas Deus é misericordioso e benigno para perdoar um povo que se arrepende! (Lm 3: 25-30). Isso faz parte das exigências da aliança (Dt 30:19-20). A pregação deve trazer sérias advertências, mas uma palavra de esperança para a Igreja.

O livro termina (Lm 5:19-22) fazendo um apelo a Deus. O Profeta está firmado na fidelidade de Deus, mesmo que sejamos infiéis (2 Tm 2:13), pois o pecador arrependido pode ficar certo que Deus o perdoará.

O v. 21 expressa a certeza da soberania de Deus em nos restaurar e nos renovar (“... renova os nossos dias como dantes”) se formos convertidos por Ele. 

Por isso, nas sinagogas, quando este livro era lido, ao chegar ao final do v. 22, o costume era repetir o versículo anterior (v. 21) – “Converte-nos a ti Senhor, e seremos convertidos; renova os nossos dias como dantes”. Ó Deus, levanta pregadores para que alimentem suas ovelhas com a Palavra.

Manoel Canuto

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