Governo Bíblico de Igreja

Introdução 
por Kevin Reed

Para muitos leitores o tema Governo Eclesiástico não sugere algo muito atraente. A julgar pela falta de literatura contemporânea sobre este tópico, alguns poderiam concluir que a discussão sobre a organização da Igreja não é importante. Contudo, verdade seja dita, muitos dos problemas que hoje enfrentamos nas igrejas são resultado do abandono do governo eclesiástico baseado nas Escrituras. 

A Igreja não é meramente um clube social. A Igreja é o reino de Cristo, sujeita a Seus regulamentos. Na Bíblia, O Senhor estabeleceu um governo eclesiástico pelo qual o Seu povo deve se pautar (Cl 1.13). Do mesmo modo que Cristo instituiu o governo civil para assegurar a ordem social, assim também estabeleceu um governo eclesiástico para preservar a ordem na Igreja (1Co 14.33). O homem não pode se desobrigar do governo eclesiástico, tanto quanto não pode desconsiderar as autoridades civis. 

Nós não afirmamos que a ordem divina para governo na Igreja se estende a cada detalhe. Obviamente, o Senhor não deu ordens sobre o número de vezes que os oficiais da Igreja devem se reunir a cada mês; nem tampouco prescreveu Ele os detalhes das vestimentas que deveriam ser usadas no desempenho de cada ofício. Tais eventualidades são adaptadas às necessidades e exigências de tempo e lugar, “segundo as regras da Palavra, que sempre devem ser observadas”.[1] Contudo, as Escrituras fornecem um plano geral de governo que a Igreja deve seguir se quiser permanecer fiel ao Seu Senhor. Portanto, é importante examinar os princípios bíblicos para a organização da Igreja. 

Este livrete irá explorar várias características de governo de Igreja que os homens são obrigados a receber como instruções bíblicas. Tais princípios são: (1) Os oficiais da Igreja segundo a Bíblia; (2) Os concílios da Igreja;* (3) Os padrões confessionais, (4) A membresia bíblica. Estes princípios combinados formam a natureza distinta do sistema de governo presbiteriano. 

O governo presbiteriano existe onde quer que tais características estejam presentes. Deve-se notar que algumas igrejas que defendem e preservam a ordem presbiteriana, não são presbiterianas no nome. Este é o caso de muitas igrejas originadas da Reforma Continental. Apesar disto, estas igrejas são presbiterianas, pois aderem aos princípios bíblicos referentes a oficiais da igreja, concílios da igreja, padrões confessionais, e membresia da igreja. 

As características distintas do Presbiterianismo se mantêm em oposição às várias tendências que, no presente, constituem ameaça à ordem na igreja. Uma tendência é concentrar o poder nas mãos de um seleto número de “pesos pesados” eclesiásticos. Tanto a hierarquia do Papado quanto a inclinação batista de exaltar o pastor a um papel ditatorial, originam-se da falha em aderir ao sistema de presbíteros, os quais se mantêm em relação de paridade uns com os outros. 

Mesmo entre denominações presbiterianas “conservadoras”, tem havido uma constante erosão dessa paridade entre presbíteros. Apelações judiciais são tratadas por comissões judiciais permanentes. A maioria dos negócios administrativos de rotina é conduzida através de burocracias denominacionais sob responsabilidade de coordenadores, membros de comitês, e membros auxiliares que nem mesmo são oficiais da Igreja. Assim, existe uma hierarquia eclesiástica que está efetivamente à parte da revisão e controle dos órgãos judiciais da Igreja. Tal estrutura organizacional assemelha-se mais ao prelado do que aos princípios escriturísticos presbiterianos. 

Uma tendência especialmente perniciosa na América contemporânea é o crescimento do número de igrejas independentes. Há um sem número de igrejas que proclamam agressivamente sua autonomia. Tais igrejas ufanam-se arrogantemente de não terem nenhum vínculo de governo com outras assembléias eclesiásticas. É como se acreditassem que o cisma fosse uma virtude. Como resultante desta noção de independência vemos o desenvolvimento de toda uma indústria de agências paraeclesiásticas e de ministros auto-ordenados. 

A membresia na Igreja é vista como assunto de pequena importância: pessoas passam a freqüentar regularmente a Igreja sem jamais se filiarem a ela ou a se comprometerem com qualquer obrigação particular. Os membros são livres para adotar qualquer crença ou estilo de vida de acordo com a sua própria preferência individual. Até mesmo escândalos abertos ou aberrações doutrinárias são permitidas, sem nenhuma ação corretiva por parte da igreja. Em última análise, a situação destas assim chamadas igrejas é nada menos que a de anarquia eclesiástica. Tais mazelas ou distúrbios dessa independência poderiam ser sanados através da recorrência apropriada aos concílios da Igreja, bem como ao confessionalismo escriturístico. 

Há 150 anos, o professor Samuel Miller (do Seminário Princeton) escreveu: 

Está claro, pela Palavra de Deus, bem como pela experiência constante, que o Governo da Igreja é um assunto de grande importância; que a forma bem como a administração deste governo estão mais vitalmente relacionados com a paz, pureza e edificação da igreja, do que muitos cristãos parecem crer; e, conseqüentemente, não se trata de coisa de pequena importância, no tocante à fidelidade devida ao nosso Mestre nos céus, o mantermo-nos “firmemente apegados” ao modelo de ordem eclesiástica, bem como ao “modelo das sãs palavras” (2 Tm 1.13) que Ele entregou aos santos.[2]

Que os homens em todo lugar laborem pela restauração do governo bíblico na igreja – em fidelidade a Cristo, para o bem da Igreja, e para a glória de Deus. 

Introdução do Livro Governo Bíblico de Igreja, Kevin Reed - Ed. Os Puritanos, 2002.
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NOTAS:
[1] Confissão de Fé de Westminster, I:VI 
* Na IPB, segundo a sua Constituição (Cap. IV, Arts. 59 e 60), os Concílios são: Conselho da Igreja, Presbitério, Sínodo e Supremo Concílio. (N.E.) 
[2] Samuel Miller, Ensaio Sobre o Fundamento, a Natureza e os Deveres do Ofício de Presbítero Regente na Igreja Presbiteriana (New York: Johnathan Leavitt; Boston: Crocker & Brewster, 1832) p. 20. Citado doravante como O Presbítero Regente. Parte do referido ensaio foi publicado em 2001 em livreto de mesmo título pela Editora Os Puritanos.

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