III. A MECÂNICA DA ELEIÇÃO
Tendo determinado o significado da doutrina, somos agora levados à próxima pergunta, “Como ela funciona? Qual é a mecânica da doutrina da eleição?” Para responder a esta questão, volvamos a atenção para aquele trecho das Escrituras que tem sido chamado de a corrente ou a cadeia de ouro de Romanos 8, versículos 29 e 30. “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conforme a imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E, aos que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou”. É uma corrente que, estendendo-se de eternidade a eternidade, a um ponto, desce e toca o tempo. Um dos extremos está ancorado na eternidade passada, onde fomos pré-conhecidos e predestinados – e a outra extremidade está ancorada na eternidade futura, onde somos glorificados – o meio desta cadeia descendo e tocando a terra onde somos chamados e justificados.
Trata-se de uma cadeia contínua e ininterrupta. Não é que alguns foram pré-conhecidos, e destes, alguns foram predestinados, e destes, alguns foram chamados, e destes, alguns foram justificados, e destes, alguns foram glorificados. Não! todos os que foram de antemão conhecidos, foram também predestinados, e estes foram chamados e justificados, e também glorificados.
Um Conhecimento Íntimo
Olhemos de perto os elos daquela corrente. “Aos que Deus de antemão conheceu”. O que isto quer dizer? Bem, alguns dizem que quer dizer que Deus estava previamente familiarizado com todas as pessoas antes mesmo que algum ser humano tivesse nascido. Deus conhecia todos os homens. Vejamos como que isto se encaixa. Se conhecer previamente significa estar previamente familiarizado com todos os homens, e eles dizem que Deus estava previamente familiarizado com todos os homens, então Deus previamente conheceu todos os homens. Isto implica, então, que todos são predestinados, todos são chamados, todos são justificados, e todos serão glorificados. E isto significa que todos os homens estão indo para céu. “Não”, nós dizemos, “Não pode ser este o significado. Talvez queira dizer que Deus de antemão conhecia alguns aspectos da vida das pessoas.” “Aqueles a quem Deus soube de antemão que aceitariam a Jesus Cristo como Salvador, estes ele predestinou para a vida eterna”. A Bíblia também não diz isto. Você poderá procurar em toda a Bíblia, de capa a capa, pela qualificação desta afirmativa, e não encontrará. Ela apenas diz. “Aqueles que Deus de antemão conheceu”. A chave para entender a palavra neste caso, reside em entender o que significa conhecer alguém no sentido bíblico. De acordo com o uso nas Escrituras, conhecer alguém significa ter com ela um relacionamento próximo, íntimo e pessoal. Existem pessoas em nossas congregações sobre as quais poderíamos afirmar que “Já nos vimos algumas vezes, mas eu realmente não as conheço”. Nós estamos usando o verbo “conhecer” num sentido bíblico, quando fazemos tal afirmativa. Deus falou, referindo-se a Israel, “De todas as nações, somente a vós outros vos escolhi” (“conheci”) (Amós 3:2a). Aquilo não quer dizer que Deus não conhecia as outras nações. É claro que Ele as conhecia todas. Mas foi sua maneira de dizer “Eu tenho um relacionamento especial com você”. Quando Maria foi informada pelo anjo de que ela teria um filho, ela disse, “Como se fará isto, visto que não conheço varão?”. Com isto Maria não quis dizer que nunca havia visto um indivíduo do sexo masculino; o que ela disse foi que nunca havia tido um relacionamento íntimo com um homem, a ponto de conceber dele um filho. Este é o significado do verbo “conhecer” na Bíblia, e é o significado usado naquela passagem de Romanos. Quando Deus de antemão conhece seu povo, isto quer dizer que Ele tem com as pessoas envolvidas um amor especial, e entra com eles num relacionamento especial, muito antes deles virem a nascer. Este é o primeiro elo da cadeia: Deus de antemão conhece seu povo.
No Caminho para a Salvação
Naquela passagem também é dito,“Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou”; quer dizer que Ele não apenas escolheu um povo para Si, mas ele estabeleceu o procedimento através do qual esse povo viria a Ele. Charles Spurgeon formulou um modo interessante para explicar o relacionamento entre pré-conhecimento (conhecimento de antemão) e predestinação: “O pré-conhecimento foi pelo mundo afora marcando as casas às quais a salvação viria, e os corações onde o tesouro deveria ser depositado. O pré-conhecimento olhou a raça humana, desde Adão até o último, e marcou com uma estampa sagrada aqueles para os quais a Salvação havia sido designada. Depois veio a Predestinação. A Predestinação não apenas marcou as casas, mas mapeou o caminho através do qual a Salvação deverá viajar até chegar à cada casa. A Predestinação ordenou cada movimento do grande exército da Salvação; ordenou o tempo quando o pecador será trazido a Cristo, a maneira como será salvo, e os meios que devem ser empregados; a Predestinação marcou a hora exata e o momento quando Deus, o Espírito, deve vivificar mortos em pecados, e quando paz e perdão serão comunicados através do sangue de Jesus Cristo. A Predestinação marcou o caminho de modo tão completo, que a Salvação não saltará jamais um passo, não queimará etapas, nem jamais estará perdida no caminho”. Este é o segundo elo da cadeia; Deus ordenou os meios pelos quais uma pessoa virá à fé em Jesus Cristo.
O Chamado do Espírito
O terceiro elo é o chamado, e aqui a cadeia desce da eternidade até o tempo. "E os que predestinou, a estes também chamou”. Aqueles a quem Deus escolheu, Ele os chamou no homem interior, pela operação de Seu Espírito, para, em fé, responder à oferta do Evangelho. Muitas pessoas têm sido chamadas; pense nisto. Pense nos milhões de pessoas que têm ouvido Billy Graham na televisão, ou pense nos milhões de pessoas que ao longo da história têm ido às igrejas e ouvido o Evangelho sendo pregado, e o convite para aceitar a Cristo como Salvador sendo oferecido. Muitos são os chamados, mas poucos são os escolhidos. Muitas pessoas ouvem exteriormente o chamado do Evangelho, mas poucos respondem interiormente. Apenas aqueles que são chamados pelo Espírito de Deus responderão interiormente. Sem o chamado do Espírito de Deus, a pessoa jamais responderá ao convite. Ela está, de acordo com as Escrituras, morta em delitos e pecados (Efésios 2:1). Ela não pode fazer nada até que o Espírito a desperte, dizendo, “Ouça, é a voz de Deus a chamar-te”. Este é o terceiro elo da cadeia – o chamado do Espírito de Deus para aceitar a Jesus Cristo em fé.
Perdoado dos Pecados
“E aos que chamou, a estes também justificou” – o quarto elo da cadeia. A pessoa que responde ao chamado e aceita a Cristo como Salvador é a pessoa que é perdoada de seus pecados. A justiça de Cristo torna-se a sua justiça, e a morte de Cristo torna-se a sua morte, e a penalidade por seus pecados é paga. Aos olhos de Deus, a pessoa permanece “como se” nunca tivesse pecado. Diante da Lei é declarada justa aos olhos de Deus.
A Certeza do Céu
Os que são justificados aos olhos de Deus, são os que são glorificados. Você e eu somos glorificados, mas você diz, “Espere um minuto, você fala como se eu já estivesse no céu. Mas eu ainda não cheguei lá.” Não, mas o texto usa o tempo passado, não usa? “E aos que justificou, a estes também glorificou”. A segurança é tamanha, e é tão certo na mente de Deus que você estará nos céu, que Ele pode falar como se você já estivesse lá. Se Deus chamou você, então você ouvirá e responderá, e em respondendo lhe será dada a segurança da vida eterna na presença Dele. A cadeia é intacta e contínua. Deus o Pai escolhe; Cristo o Filho morre; e o Espírito Santo nos chama à fé – as três pessoas da Trindade estão unidas em trazer-nos a Salvação. Este é o modo como funciona, a mecânica da Salvação.
Quarta parte do artigo publicado na Revista Os Puritanos 02 de 2003 -Truth for Life. Series Editor. J. Lingon Duncan III, Ph.D.
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