Por Dr. Joel Beeke
Um ingrediente muito importante na evangelização puritana
era a disposição interna do evangelista.
1) Em primeiro
lugar, ele vivia com um
sentimento de dependência do Espírito Santo. O pregador puritano estava
plenamente consciente da sua incapacidade de salvar uma alma e da grandeza da
conversão. Ao mesmo tempo, ele estava convicto que é agradável
a Deus usar a pregação como o meio principal para salvar os eleitos. O pastor
puritano trabalhava no espírito de dependência do Senhor, convicto de que não
podia fazer nada por suas próprias forças e que o seu trabalho no Senhor não
era vão.
2) Em segundo
lugar, o puritano tinha uma
constante disposição interior de orar. Eram grandes pregadores porque em
primeiro lugar eram grandes suplicantes. Eram pessoas que lutavam com Deus e
sabiam muito bem o que significava "agonizar" pedindo a bênção di vi
na sobre a palavra que eles acabavam de pregar. Quero dar uma ilustração com a
vida de Robert Murray McCheyne. Ele veio depois dos puritanos, mas em essência
era um puritano. Certa vez chegou à igreja onde McCheyne havia pastoreado um
visitante admirando o edifício, que era muito bonito. O zelador perguntou-lhe
se podia ajudá-lo em alguma coisa. Ele respondeu que sim, pois tinha vindo de
longe até àquela igreja, para ver se conseguia descobrir o grande segredo do
ministério de McCheyne (McCheyne foi um pregador escocês que morreu com 29 anos,
mas Deus o usou para a conversão de centenas de pessoas). O zelador convidou o
visitante para ir com ele, pois lhe mostraria o "segredo". Levou-o
para o escritório de McCheyne, onde, no passado ele costumava ficar. Disse-lhe:
"Amigo, sente-se atrás daquela escrivaninha e ponha sua cabeça em cima
dela; ponha sua mão na sua cabeça e chore... depois venha comigo...”.
Posteriormente, os dois voltaram ao templo e foram ao púlpito. O zelador disse
ao visitante: "Agora incline-se sobre este púlpito ... estire bem os seus
braços ... ore ... chore ... agora você sabe qual era o segredo de Robert
Murray McCheyne". Não é nenhum choro provocado pelo homem, não é um
emocionalismo sem as Escrituras; é, antes, um mover do coração, bíblico, pelo
Espírito Santo de Deus. É disso que precisamos hoje, da ênfase dos puritano em
uma mente e um coração voltados para Deus. Reunindo estas duas coisas teremos
uma vida que agrada a Deus.
Vida Coerente
Os puritanos buscavam uma vida coerente com a Palavra de
Deus em qualquer lugar que estivessem. Um pastor puritano escreveu o seguinte:
"A minha oração diária é que eu possa ser tão santo na minha família, e
nos momentos que eu passo sozinho com Deus, como eu pareço ser quando eu estou
em frente ao meu povo, no púlpito da minha igreja". Os puritanos buscavam
santidade em todas as áreas da sua vida, todavia uma santidade que não era
baseada em méritos pessoais.Eles sabiam que não possuíam tais méritos. Eles
buscavam, uma santidade que era fruto daquilo que Deus fizera por eles. Por isso
se destacaram na história da Igreja como inigualáveis na vida particular de
oração, na perseverança em manter o culto doméstico, nas orações em público, e
na pregação.
Perguntamos: será que costumamos orar individualmente como
McCheyne e os puritanos? Será que nós, de forma zelosa, até ciumenta, cuidamos
de nossa vida de comunhão com Deus? Será que estamos convictos que parar de
vigiar e de orar é estar esperando um desastre espiritual na nossa vida? Será
que estamos submissos com nosso coração e mente à disciplina da Palavra de
Deus? Será que temos em nossa vida diária aquele mesmo espírito dos puritanos
que os tirou do mundo, colocando seus corações nas coisas eternas, especialmente
no próprio Deus? Será que estamos movidos, como os puritanos, com aquela paixão
que eles tinham de glorificar a Deus e magnificar o nome de Jesus Cristo,
falando contra o pecado e buscando a santidade? Será que temos sede da glória
de Deus? Não é suficiente ter livros puritanos nas nossas prateleiras, nem
mesmo é suficiente lê-los, Espero que sejam lidos, pois são amigos maravilhosos
e grandes mentores espirituais. São aquilo que Lutero disse: "Alguns dos meus melhores
amigos já morreram há muito tempo. mas eles ainda falam comigo através da
página impressa".
Eu sei pessoalmente o que isso
significa, pois comecei a ler os puritanos quando tinha nove anos de idade.
Costumava ficar até tarde da noite lendo-os. Frequentemente minha mãe
determinava que eu parasse de ler para dormir. Eu desligava a luz do meu
quarto, porém ia para a escada para observar a luz que saia por baixo da porta
do quarto dos meus pais. Quando ela se apagava, eu voltava ao meu quarto e
continuava a ler! Lia com um livro dos puritanos aberto diante de mim e a
Bíblia aberta, ao lado. Lia devagar, fazendo cinco ou seis orações por cada
página que lia. Conferi nas Escrituras cada texto que eles citavam. Os
puritanos acabavam me levando sempre de volta à Bíblia — e
ela sempre me levava aos puritanos. Muitas vezes estava chorando enquanto lia,
um choro de alegria pela salvação plena que se acha em Jesus, mesmo um pecador
como eu era e ainda sou. Eu chorava com aquele desejo imenso de ser mais santo,
de ser mais parecido com Cristo e de ter mais daquela disposição internados
puritanos. Precisamos desta religião vivenciada por eles. Eles tinham suas
falhas, e seus escritos não são a Bíblia, mas eles nos ajudam a entender a
Bíblia, e a sua piedade vital é um grande exemplo para nós.
Dessa forma vamos nos desafiar uns aos outros para crermos
no Deus dos puritanos. Quem tem a coragem de ir além de uma simples leitura dos
escritos dos puritanos? De ir além de uma apreciação das idéias dos puritanos e
viver uma vida como eles viveram, levando avante a obediência e a santidade a
Deus? Embora amemos a Cristo, como os puritanos O amaram, será que estamos
servindo a Deus como eles O serviram? O Senhor nos fala em Jeremias 6: 16: "Assim diz o Senhor: ponde-vos àmargem no caminho e vêde, perguntai
pelas veredas antigas, qual é o bom caminho; andai por ele e achareis descanso
para as vossas almas".
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