O Supremo Triunfo de
Cristo
John R. de Witt
“Ditas estas palavras, foi Jesus elevado às
alturas, à vista deles, e uma nuvem o encobriu dos seus olhos” (Atos 1:9)
Nem
de longe se fala da ascensão de Cristo tanto quanto se fala da sua
ressurreição. A ressurreição é o grande foco do ensino do Novo Testamento. Sua
ressurreição dentre os mortos colocou o selo sobre tudo o que tinha feito em
obediência ao Pai. Tendo se levantado do túmulo, ficamos sabendo que o que
Jesus pretendia fazer foi de fato realizado. Mas o Novo Testamento fala muito
especificamente da ascensão do Senhor aos céus. Devemos tentar compreender um
pouco do que a ascensão pode e deve significar para nós.
Além disso, pode ser dito que a ressurreição e ascensão se
pertencem conjuntamente, elas são uma única peça de tecido, e alguém não pode
facilmente separá-las.
F.F. Bruce, em seu comentário sobre Atos, disse isto:
"Na pregação apostólica a ressurreição e ascensão de Cristo
parecem representar um movimento contínuo e ambos juntamente constituem sua
exaltação. Porém esta exaltação à mão direita de Deus, a
qual é o que o Dia da Ascensão comemora, não foi adiado para o quadragésimo dia
após seu triunfo sobre a morte".
A
verdade é que o Senhor não entrou primeiro na presença do Pai, não foi primeiro
assentado à mão direita do Pai, no dia da sua própria ascensão. Enquanto Ele
esteve com seus discípulos durante os quarenta dias entre a ressurreição e a
ascensão, a maior parte deste período foi passada em outro lugar. Mas, como vamos entender este "outro lugar"?
Esteve o Senhor fechado em algum lugar da terra talvez ― em uma caverna, em uma
casa segura, em um túmulo?
Ele estava e seguramente deve ter estado na presença do seu Pai e
à mão direita de seu Pai, já exaltado ao mais alto grau.
Você
observará imediatamente, do que Lucas nos conta nesta passagem, que a ascensão
é a subida visível ― Cristo está sendo elevado ― para o céu na presença dos
seus discípulos. Em vista aqui, está uma transição local. Cristo esteve com os
seus discípulos. Jesus falou com eles. Cristo passou aproximadamente trinta e
três anos nesta terra, mas agora Ele está conosco não mais naquele literal e
físico sentido da palavra. Ele foi elevado ao céu, recebido na presença do seu
Pai e nosso Pai. Do monte chamado das Oliveiras onde Ele e seus discípulos se
encontravam, foi tomado, recebido para dentro do céu. "E uma nuvem o encobriu dos seus olhos"
(Atos 1:9). Frequentemente nas escrituras "nuvem" ou
"nuvens", podem ser mencionadas em relação a Deus e à sua majestade e glória. No Antigo Testamento quando Deus
mostrava-se para o seu povo ele frequentemente fazia isto por intermédio de uma
nuvem. Deus guiou Israel através do deserto naqueles longos e fatigantes anos
do seu vaguear, por meio de uma coluna de nuvem durante o dia e uma coluna de
fogo durante a noite. Quando Deus se mostrou presente na dedicação do
tabernáculo no deserto, a nuvem, a glória, a shekkinah (a manifestação
da presença do ser divino) cobriu o lugar e depois disso permaneceu acima da
Arca da Aliança no Santo dos Santos.
Depois,
foi-nos dito também, que quando o Senhor Jesus Cristo foi transfigurado, quando
algo da sua glória suprema brilhou através da sua natureza humana, Ele e seus
discípulos com Ele foram envolvidos numa nuvem. Então, da nuvem Deus disse: "Este
é o meu filho amado em quem me comprazo" (Mt. 17:5). Depois há
a segunda vinda: "Eis que vem com as nuvens, e todo o olho o verá, até quantos o transpassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele.
Certamente, amém!" (Ap. 1:7).
Podemos entender de
que as Escrituras nos falam nestas passagens e em muitas outras, que
"nuvem" em relação a Deus, fala de glória, grandeza e majestade.
"Nuvem", nestas circunstâncias, pode ser teofania. E quando nos é
dito que o Senhor Jesus foi recebido fora da sua vista por uma nuvem, não
devemos entender que Ele subiu até que passou a barreira fornecida pelas nuvens
e depois continuou indo para cima até que seus discípulos não mais puderam vê-lo,
mas, ao contrário, que Ele foi recebido na glória celestial.
Deus o Pai tornou-o
à si uma vez mais Deus O Filho, e assentou-o à sua própria mão direita com toda a majestade e glória devidas a
Ele como Mediador e como Rei. A ascensão é a festa da entronização do nosso Rei
Mediador, da sua exaltação para o lugar de honra e preeminência à mão direita de Deus Pai.
Mas agora, em
segundo lugar, um outro problema tem de ser tratado aqui com relação à ascensão do Senhor Jesus Cristo por causa de um possível
mal-entendido ou de uma má interpretação. Neste sentido dois problemas podem
levantar-se em nossas mentes ao pensarmos neste ser recebido na glória.
O primeiro deles é
este: Por que o Senhor precisava de qualquer argumentação de sua majestade
quanto a que a ascensão lhe deu? Não era Ele desde a eternidade o próprio Filho
de Deus? Quem pode acrescentar qualquer coisa à sua
dignidade e poder? "No principio era o verbo, e o verbo
estava com Deus, e o verbo era Deus" (Jo 1:1). Desde a
eternidade, por definição, na natureza do caso, Ele já tem todo poder e toda
glória.
O outro, o segundo
problema, é simplesmente este: Antes da sua ascensão Ele mesmo prometeu aos
seus discípulos: "E eis que estou convosco todos os dias até à consumação dos séculos" (Mt.
28:20). Mas, se isto é verdade, se Ele está conosco de acordo com sua própria
promessa, e mesmo até o fim do mundo, então que devemos entender da ascensão? A
ascensão, na natureza do caso, significa que Ele foi levado de nós, que Ele não
está mais conosco, que não mais podemos falar com Ele como os seus discípulos
eram acostumados a fazer. Ele foi embora. Nós, porém, precisamos compreender
muito claro e cuidadosamente em nossas próprias mentes que a ascensão não fala
do aumento da glória e majestade dadas ao Senhor Jesus Cristo como a segunda
pessoa da Trindade ou de qualquer mudança em seu ser. Da mesma forma devemos
entender claramente que a ascensão não significa que, quanto à sua deidade, o Senhor Jesus Cristo, a despeito da sua própria
promessa em contrário, não mais está conosco.
O que está em jogo
aqui é nossa compreensão da exaltação da pessoa do mediador que não é apenas
Deus, mas também homem. Ele é o homem-Deus. Ele é Emanuel. E Emanuel significa "Deus
conosco" ou "Deus que está conosco". Ele tomou para si mesmo
a nossa natureza. Ele é o eterno Filho de Deus, e é completamente apropriado
que devamos nos dirigir a Ele como a deidade. "Meu Senhor e meu
Deus" disse-lhe Tomé (Jo 20:28). Mas Ele é também um de nós. Ele é um
homem. Ele assumiu nossa natureza. Jesus tem um corpo. Esse corpo está agora
glorificado realmente; mas não é menos que um corpo por conta disso. E a
transição local que teve lugar; e a subida da terra para o céu da pessoa do Mediador,
fala, portanto, da exaltação dessa pessoa no sentido de que nossa natureza foi
glorificada e elevada à posição de honra à mão direita de Deus. Mas, o Senhor Jesus Cristo quanto à sua deidade, sendo Deus como o é, e por essa razão, onipresente,
Ele está sempre conosco como prometeu que estaria.
Agora vamos
refletir um pouquinho sobre o que isto significaria. A ascensão não é meramente
uma doutrina que pode interessar aos especialistas no campo da Teologia Sistemática,
mas que nos deixa intocados e imóveis. Ao contrário, a ascensão do nosso Senhor
relaciona-se com a minha experiência e com a sua.
1. Devemos compreender imediatamente que a ascensão fala da aceitabilidade à vista do Pai, da obra que o seu
Filho realizou. O Salvador completou sua incumbência mediatória e o Pai
elevou-o para suprema dignidade e honra. Porque Deus altamente o exaltou, e
deu-lhe um nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus todo
joelho deverá se dobrar; nos céus, na terra e debaixo da terra, e que toda
língua confessará que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai (Fp.
2:9-11).
Eu
digo que a ascensão é um atestado de aceitabilidade da sua obra redentiva. Que
Ele ascendeu e que governa da sua posição de dignidade à mão direita do Pai e deve significar para nós que Deus agradou-se
do que Ele fez. O que Ele nos diz no evangelho, no Novo Testamento, na palavra
que vem para nós de redenção a qual é nossa em e através do seu sangue é
verdadeiro. Nós podemos depender dela.
2. A ascensão de Cristo
significa que nós temos um porta-voz na presença de Deus o Pai. É uma grande coisa ter um amigo na corte, um
que pode falar por nós. Deixados por nós mesmos na sala-do-trono de Deus, tendo
de responder por tudo que temos feito e tudo o que temos falhado em fazer, nós
estaríamos sem fala e sem defesa. Devemos ser cuidadosos a respeito de orar por
justiça. Você pede justiça? Deus proíbe que a justiça deve ser feita a mim,
pois nesse caso eu devo perecer totalmente e estar para sempre coberto de
vergonha e confusão na face. A justiça não é feita a mim a não ser no sentido
de que a própria justiça santa de Deus foi satisfeita através da morte,
sepultamento e ressurreição do Senhor Jesus Cristo.
Daí,
eu não tenho que temer na sala do tribunal, a sala do trono, de Deus. É uma coisa maravilhosa saber da presença de Cristo ao meu lado,
ali. Quando eu tropeço e caio no pecado, quando eu cometo erros, quando eu
falho em fazer o que devia, e quando eu faço o que não devia, eu O tenho ali.
Aquele que faz intercessão por mim, Aquele que fala a meu favor e cuja
influência é infinita porque Ele próprio é o Filho de Deus.
O
Senhor está ao lado de seu Pai para nos representar e interceder por nós: "Eis
que estou convosco sempre".
Ele quis que soubéssemos que, muito embora esteja à mão
direita do nosso Pai celestial e não fisicamente conosco, Ele está ali como
nosso Mediador e nosso Rei. Por conta disso podemos dormir à noite, podemos levantar dia após dia e começar nosso trabalho
novamente com consciências lavadas e limpas e com coração cheio de grande
regozijo. Não importa quão escuro esteja o céu, não importa quão problemática a
vida possa nos parecer algumas vezes, não importa quão repleta de dificuldades
e com problemas e aparentemente insolúveis, há vitória porque o Senhor Jesus
Cristo reina à mão direita do Pai.
3. A ascensão de Cristo
significa que a ressurreição, que agora ainda está em perspectiva para nós,
também já nos é uma realidade em princípio, porque o nosso Salvador é, mesmo agora, como nós seremos um dia.
Quando Ele levantou-se dentre os mortos, Ele assim o fez, não como um espírito
desincorporado, mas em carne e osso (Lc. 24:39). Agora Ele ascendeu aos céus.
Além disso, Jesus provou que ainda tinha um corpo, um corpo glorificado mesmo
quando comeu peixe e mel (Lc. 24:41-43). Agora Ele ascendeu aos céus e Ele está
à mão direita do nosso Pai celestial. Ele está lá como o testemunho,
o atestado, a evidência de que nós, um dia igualmente, estaremos lá.
Não
deixe que o seu coração se perturbe: Vós credes em Deus, crede também em mim.
Na casa de meu Pai há muitas moradas: se assim não fora, eu vo-lo teria dito.
Eu vou preparar-vos lugar (Jo 14:1-3). Você ouve o que Ele está dizendo para
você? Ele está assegurando a você ― você que crê nele e cuja vida tem sido
transformada pelo seu poder ― que porque Ele está lá como ascendeu, o que vive
e reina, você também estará lá um dia.
4. A ascensão de Cristo
significa que Ele nos enviou o seu Espírito Santo. Dez dias depois da ascensão
ocorreu o Pentecostes. A Igreja recebeu o dom do Espírito Santo em poder. O
próprio Senhor disse em tantas palavras que sua ascensão significava ao mesmo
tempo o dom do Espírito Santo: "Mas eu vos digo a verdade: Convém-vos
que eu vá, porque, se eu não for, o consolador não virá para vós outros;
se porém eu for, eu vo-lo enviarei". (João 16:7).
Assim o Senhor, por
meio de sua ascensão, deu-nos uma garantia de que nós teremos a capacitação da
qual necessitamos. Ser-nos-á dado o comissionamento que devemos ter, se teremos
de fazer sua obra. O Espírito Santo dá vida nova; Ele é o autor da regeneração; Ele
é o capacitador do povo de Deus; Ele é aquele que toma a mensagem do evangelho
e a comprova de maneira convincente. Veja a ligação, a inelutável ligação,
entre a ascensão, por um lado, e o dom do Espírito Santo, por outro lado.
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