por Stephen Pribble*
Deus nos deu a
Sua Palavra imutável lavrada por escrito na Bíblia. Ele convoca o pregador para
expor e aplicar essa Palavra à situação que enfrentamos fixando-a em nossas
vidas do mesmo modo que o carpinteiro fixa um prego. O pregador fala por Deus,
porque Deus falou na Bíblia. A sua voz ressoa com o familiar “assim diz o
Senhor”. Os crentes têm a responsabilidade de ouvir e de avaliar tudo o que
ouvem à luz da verdade revelada de Deus.
Neste artigo
iremos considerar o curioso fenômeno moderno do crente autônomo. Essa pessoa se
considera membro da igreja universal, mas não da igreja local. Assim como José
de Arimatéia, que era “discípulo de
Jesus, ainda que ocultamente pelo receio que tinha dos judeus” (Jo 19.38).
Obediência e
submissão
Inspirado pelo
Espírito Santo o autor da carta aos hebreus exorta a seus leitores — novos
convertidos do judaísmo — para que não dêem as costas ao cristianismo, sua fé
recém-descoberta, e se voltem para os antigos e confortáveis modos da sua
religião apóstata. Abraçar o cristianismo, representou para essas almas
corajosas grande sacrifício e dores. Eles foram rejeitados por suas famílias,
amigos e comunidade. Foram expulsos do templo e da sinagoga. Transformaram-se
num bando de homens e mulheres fugitivos, desvalidos e desprovidos de bens
materiais, apegados apenas às promessas de Deus. Ao longo de todo a carta aos
hebreus lemos repetidas vezes veementes advertências para que esses novos
convertidos não retrocedam nem abandonem por nada a verdade do cristianismo. Em
nosso texto o apóstolo instrui a esses novos crentes para que “obedecei a vossos pastores e sujeitai-vos a
eles” (Hb 13.17 – ARC). É nesses dois mandamentos da Escritura — obediência
e submissão — que concentraremos a nossa atenção. O que significam e como
podemos obedecê-los?
Houve um tempo
em que eu estava convencido de que a membresia formal da igreja era alguma
coisa que as igrejas tinham por mera tradição e que não existia nenhum
fundamento bíblico para isso. Não podia pensar que a antiga igreja “primitiva e
pura” pudesse ter tido nenhuma das complicações modernas que nos infernizam.
Eles certamente não teriam nada tão problemático quanto a membresia da igreja!
Eles nem mesmo tinham os benefícios de uma mala-direta por computador. Naquele
tempo as coisas eram tão simples e venturosas!
É claro que há problemas com a idéia da membresia
eclesiástica em sua totalidade, há pelo menos com a forma descuidada como hoje
são tratados os róis de membros. Há um autor que escreveu:
O
típico rol de membros de igreja tem os nomes de pessoas que podem ter deixado a
congregação há anos e que estão agora ou freqüentando uma outra igreja ou
igreja nenhuma. Uma vez batizada na igreja local de uma certa denominação a
pessoa geralmente permanece batista, metodista, presbiteriana, etc., sem
importar que volte ou não a freqüentar de novo a igreja. Para ajudar a
minimizar o constrangimento e evitar as embaraçosas dificuldades relativas à
correta supervisão bíblica, os eclesiásticos modernos tiveram a idéia de criar
um rol de inativos. Tal improvisação
diminui ainda mais o valor do rol de membros quando legitima e inventa o status
de “cristão inativo”, alguém supostamente fora do alcance do escopo da
disciplina eclesiástica.
Mas não
percamos de vista a inequívoca e divina exigência de nosso texto: “obedecei a vossos pastores e sujeitai-vos a
eles”. Fica evidente por duas outras ocorrências dessa expressão de impacto
nesse mesmo capítulo (vv. 7 e 24) que o seu alvo são os líderes eclesiásticos,
não os líderes familiares nem civis. Foram os presbíteros da igreja que
receberam a responsabilidade de pastorear o rebanho de Deus, de exercer a
supervisão espiritual apropriada (1Pe 5.1-2) e isso abrange a gestão dos
assuntos pertinentes à igreja; governam como ministros de Cristo, em lugar
dEle. Quando nos submetemos ao seu governo legítimo, estamos na verdade
obedecendo a Cristo.
Mas alguém
pode contestar: “Não sou membro de nenhuma igreja. Então esse versículo com
certeza não se aplica a mim”. Respondemos que Hebreus 13.17 abrange aquilo que deveria ser o caso de todo e qualquer cristão; ele apresenta a
norma para a vida cristã. Todo verdadeiro filho de Deus que compreende as
implicações desse versículo iria querer se colocar em condição de poder
obedecer a esse claro mandamento apostólico, não? É preciso lembrar que a
medida da bênção é a medida da obediência (Sl 119.2).
Muitos cristão
se encolhem diante da idéia de que as autoridades eclesiásticas têm poder sobre
eles. Afinal de contas, não foi a nossa nação construída do nada pelo trabalho
de desbravadores independentes e que se fizeram sozinhos? Parte daquele
“individualismo rude” permeia as nossas mentes e por isso não concordamos muito
com essa idéia de submissão a autoridade. Gostamos de pensar que chegamos onde
chegamos na vida por nossas próprias forças, muito obrigado, mas não precisamos
mesmo de nos submeter a ninguém. A submissão, no entanto, é um conceito
bíblico. Para sermos submissos a Cristo temos que obedecer aos que têm
autoridade sobre nós.
Como é que
obedecemos? O apóstolo esclarece esse mandamento ao acrescentar a expressão “sujeitai-vos”. Submissão! Basta a
pronúncia dessa palavra para deixar em pé os cabelos da nossa nuca. Submissão
por quê? Isso é degradante! Se alguém estiver acima de mim isso implica na
minha inferioridade. Também me encolho por dentro diante dessa idéia, mas ela é
bíblica. Até mesmo o nosso Senhor Jesus Cristo submeteu-se voluntariamente ao
Pai. A esposa amorosa submete-se ao seu marido. Como seria Cristo inferior ao
Pai? Como seria a esposa amorosa inferior ao seu marido? De maneira nenhuma! No
entanto ambos se submetem por obediência. De modo semelhante, se quisermos ser
obedientes, temos a obrigação de nos submeter à legítima autoridade da igreja.
As bênçãos da
igreja
Observemos
três salmos que falam das bênçãos da igreja. Primeiro: “Quão amáveis são os teus tabernáculos, Senhor
dos Exércitos! A minha alma suspira e desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne
exultam pelo Deus vivo! .... Pois um dia nos teus átrios vale mais que mil”
(Sl 84.1-2, 10). Aqui o salmista expressa o seu desejo de íntima comunhão com o
Deus vivo. Foi Deus quem colocou este profundo anelo dentro do coração do
homem, e nada o pode preencher senão Ele. Por vezes nos ocupamos demais
tentando preencher esse anseio com coisas materiais, prazeres ou
relacionamentos, mas descobrimos que nada disso pode satisfazer essa necessidade
humana básica. Isso só pode ser achado na igreja, lugar onde habita o Espírito
de Deus (1Co 3.16). Um dia nos átrios do Senhor é melhor que um milhar deles
desperdiçados em outro lugar qualquer. A comunhão com Deus dá perspectiva à
vida.
Nas palavras
de outro salmo: “Grande é o Senhor e mui digno de ser louvado, na
cidade do nosso Deus. Seu santo monte, belo e sobranceiro, é a alegria de toda
a terra; o monte Sião, para os lados do Norte, a cidade do grande Rei” (Sl
48.1-2). Vemos aqui que a igreja de Deus é comparada à uma cidade. É a cidade
da qual falou o nosso Senhor Jesus Cristo quando disse: “Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre
um monte” (Mt 5.14). Cristo compara os Seus seguidores a uma cidade
edificada sobre uma montanha. A igreja é o “Monte Sião”, “ A “cidade do Deus
vivo, a Jerusalém celestial” (Hb 12.22). É o cumprimento e a realidade
espiritual tipificadas pela cidade de Davi.
Por que razão
o povo de Deus não iria querer vir para dentro daquela cidade? Por que iriam
querer ficar longe dela? Por que se contentam em ser “crentes secretos”? Por
que não se identificam com o povo de Deus? Uma pesquisa nacional realizada há
alguns anos revelou que uma grande percentagem das pessoas de nosso país (EUA)
afirma que é nascida de novo. Então, por que é que as nossas igrejas não estão
cheias? Por que é que tantos crentes professos não querem vir para dentro da
cidade para ser tornarem parte da igreja visível de Deus? Tem alguma coisa
errada!
O salmista
diz: “Eu amo, Senhor, a habitação de tua casa e o lugar onde tua glória
assiste. Não colhas a minha alma com a dos pecadores, nem a minha vida com a
dos homens sanguinários, em cujas mãos há crimes e cuja destra está cheia de
subornos. Quanto a mim, porém, ando na minha integridade; livra-me e tem
compaixão de mim. O meu pé está firme em terreno plano; nas congregações,
bendirei o Senhor” (Sl
26:8-12).
“Eu amo, Senhor,
a habitação de tua casa” — será que você
pode dizer isso de verdade? Você ama estar com o povo de Deus? Ou é uma tarefa,
uma rotina, um ritual vazio? Para o crente não existe alegria maior que a
comunhão com os da sua mesma e preciosa fé. Afinal, o que é que temos em comum
com os incrédulos? Com os que são crentes conosco, temos em comum tudo aquilo que tem importância real. Se
você está mais inclinado a passar o seu tempo com os inimigos de Cristo do que
com os Seus eleitos, então, com certeza, tem alguma coisa errada aí, pois o
crente deseja a comunhão constante de outros crentes.
Ligar e
desligar
Consideremos as
seguintes palavras do nosso Senhor: “Se
teu irmão pecar contra ti, vai argüi-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir,
ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma ainda contigo uma ou duas
pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se
estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir
também a igreja, considera-o como gentio e publicano. Em verdade vos digo que
tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que
desligardes na terra terá sido desligado nos céus. Em verdade também vos digo
que, se dois dentre vós, sobre a terra, concordarem a respeito de qualquer
coisa que, porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai, que está nos
céus. Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no
meio deles” (Mt 18.15-20).
Esta seção é
quase a repetição palavra por palavra daquilo que o Senhor dissera a Pedro numa
ocasião anterior: “o que ligares na terra
terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos
céus” (Mt 16.19). Nesse versículo Jesus se dirige apenas a Pedro como
representante da igreja usando o verbo na segunda pessoa do singular. Mas no
capítulo 18 Ele usa o verbo na segunda pessoa do plural: “tudo o que desligardes na terra terá sido desligado nos céus”. Aqui
Ele se dirige a todos os Seus discípulos e por extensão à igreja toda e lhes
diz que, coletivamente, têm o poder de “ligar” e de “desligar”. Essas palavras
eram termos rabínicos de uso comum que significavam respectivamente “proibir”
ou “permitir”. A idéia era de que as atitudes eram proibidas ou permitidas
segundo a lei de Deus.
A mente das
pessoas modernas está muito obscurecida pelo relativismo aceito hoje
amplamente, até mesmo em muitas igrejas. Muitas pessoas hoje estão convencidas
de que certos feitos que são normalmente maus, podem ser considerados bons sob
certas circunstâncias. Não é assim com Deus! Como disse enfaticamente o antigo
profeta: “Ai dos que ao mal chamam bem e
ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo
por doce e o doce, por amargo!” (Is 5.20). O nosso Deus quer que a Sua
igreja exercite o “poder das chaves” na pregação autoritativa da Palavra de
Deus e no lídimo exercício da disciplina eclesiástica, recebendo pecadores
arrependidos na comunhão do Deus vivo, e banindo os impenitentes da Sua santa
presença.
Pensa-se
sempre que os versículos 19 e 20 se referem a uma pequena reunião de oração: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos
em meu nome, ali estou no meio deles”. Conquanto essa idéia seja verdade,
este não é o sentido primário dos versículos no contexto. O contexto é o da
disciplina na igreja. Quando o conselho de uma igreja se reúne para disciplinar
um membro da igreja culpado de desprazível pecado, Cristo promete estar
verdadeiramente presente entre eles. Desde que o seu julgamento seja verdadeiro
conforme a Escritura, a Sessão, na verdade, dá a sentença no lugar de Cristo!
Observe que a sentença é decretada pela maioria de uma corte da igreja constituída
legalmente: dois ou três reunidos em nome de Cristo. Jamais nenhum líder da
igreja agindo sozinho é investido de um poder tão extraordinário. (Se essas
exigências bíblicas fossem normalmente seguidas, haveria bem menos escândalos
na igreja).
Das três agências
de governo humano ordenadas por Deus — a família, a igreja e o Estado — só a
igreja tem diante de Deus a autoridade de sentenciar à excomunhão o pecador que
não se arrepende, dizendo efetivamente: “Você estará condenado para sempre se
não se arrepender. A menos que se acerte com Deus, jamais terá a possibilidade
de que tudo esteja bem com a sua alma. Se não se arrepender do seu pecado e
voltar à comunhão com o Juiz de toda a terra, estará sob o terrível perigo do
tormento eterno no lago de fogo”. A igreja invoca o Juiz celestial para que
honre a palavra da igreja, o que Deus promete fazer. Embora Deus reserve para
Si o direito de executar o juízo final no céu, Ele, em Sua sabedoria, deu à
igreja a responsabilidade de exercer juízo temporal sobre a terra. A mais alta
punição que o Estado pode dar é a da força coerciva: a espada de aço da punição
capital; mas a mais alta punição que a igreja dá é a da espada do Espírito
brandida na excomunhão. Ela diz: “Se não se arrepender, se não vier a Deus nas
Sua condições, estará eternamente perdido”.
Pode-se servir
melhor a Deus desobedecendo-O?
A Confissão de
Fé de Westminster, ao insistir que fora da igreja “não há possibilidade
ordinária de salvação” (xxv.ii), transparece a suprema importância que Deus
atribui à igreja. Há os que, à semelhança do ladrão arrependido na cruz, podem
vir à fé em Cristo sem que contudo, pelos obstáculos da providência, tenham a
oportunidade de se ligarem formalmente à igreja antes de morrer. Mas tal caso
é, com certeza, a exceção e não a regra. É por isso que a Confissão usa a
palavra “ordinária”. Fora da igreja “não há possibilidade ordinária de
salvação”. Contudo muitas pessoas em nossos dias dizem a si mesmas: “Eu tenho
fé pessoal em Deus. Não sou membro de nenhuma igreja. Lá existe um monte de
hipócritas, por isso não vou me filiar”. Vivem assim as suas vidas cegamente
convencidos de que tudo vai bem com as suas almas.
Alguns anos
atrás conheci pessoalmente uma idosa judia. Ela passou a freqüentar certa
igreja e até lhe foi permitido participar da Ceia do Senhor, embora ainda
mantivesse o hábito da vida inteira de ir à sinagoga aos sábados. Jamais teve
em sua vida a disposição para se submeter totalmente às demandas do nosso
Senhor. Não estava disposta a renunciar à sua religião apóstata e a ser
batizada numa igreja cristã, embora lhe fora dado (erroneamente) o privilégio
de participar da Ceia do Senhor. Isso agora representa uma séria, mas comum e
difundida, violação da ordem de Deus sobre a membresia da igreja, pois somente
os que fazem parte da igreja visível, que confessaram a Cristo como seu
Salvador e Senhor, que se submeteram à ordenança do batismo e à autoridade
legal da igreja podem participar da Ceia do Senhor.
Ao pregar
sobre este assunto numa certa igreja tive a oportunidade de conversar com um
dos diáconos. Ele citou uma senhora que freqüentava a igreja há muitos anos.
Perguntei se ela alguma vez já dera os passos para se juntar à igreja? “Bem”,
disse ele, “na verdade, não”. Ele explicou que ela estava envolvida com um
certo ministério evangelístico paraeclesiástico cuja a política dos
participantes era jamais dizer qual a sua filiação eclesiástica a quem
inquirisse. “Ela sente”, continuou ele, “que o seu ministério naquela
organização perderia agilidade se estivesse presa a uma igreja em particular”.
Disse ao diácono: “Isso é incrível! Você quer dizer que ela acha que pode
realmente servir melhor a Cristo desobedecendo-O?”.
A Bíblia
ordena: “obedecei a vossos pastores e
sujeitai-vos a eles”. Isso não quer dizer obedecer de um modo vago
qualquer, apenas da boca para fora. Você não poderá obedecer àqueles que
receberam a autoridade de governar a igreja de Cristo se nunca se filiar à
igreja. Só para começar, você jamais poderia ser excomungado sem nunca ter sido membro comungante. Na nossa igreja, sempre que realizamos a Ceia do
Senhor, o ministro convida a “todos os crentes que estejam em plena comunhão
com as suas igrejas evangélicas para que participem da ordenança”. Que grande
convite é ser chamado para vir à presença imediata de Cristo! A Ceia do Senhor
é uma jantar de comunhão que só pode ser oferecido aos santos e fiéis que sejam
corretamente membros da igreja, porque se requer que tudo seja feito
decentemente e com ordem (1Co 14.40).
Como a própria
igreja hoje se valoriza tão pouco, não é de se admirar o baixo valor dado à
filiação eclesiástica. Muitas organizações cívicas e associações profissionais
fazem mais exigências para alguém se tornar membro do que a igreja. Em quantos
associações cívicas locais seria possível permanecer como membro em pleno gozo
de seus direitos sem ter que participar das reuniões nem pagar taxas? É
realmente vergonhoso que as associações cívicas façam maiores exigências para
ser membro do que a igreja de Jesus Cristo. Porque nenhuma outra organização
tem o poder das chaves, o poder de declarar a admissão das pessoas no céu ou de
bani-las da presença de Deus.
Essa atitude
vaza e se infiltra no evangelismo. Parece que se espalhou a idéia de que as
agências paraeclesiásticas, e não a igreja mesma, é que estão verdadeiramente
cumprindo a grande comissão. Por isso, diz-se, se você quiser dar dinheiro onde
se alcançam resultados de verdade,
deve dá-lo a algum ministério paraeclesiástico. Esse pensamento reflete a
compressão errada e generalizada de que a grande comissão é somente persuadir
as pessoas a “convidarem a Jesus para entrar em suas vidas” — descer pelo
corredor, assinar o cartão de decisão, ou falar com um conselheiro que mostrará
alguns versículos da Bíblia, orará com eles, e lhes dará a certeza da salvação.
Mas, evangelismo é só isso? Não. Há muita coisa mais envolvida. Analisada
gramaticalmente, a grande comissão é primariamente um mandamento para fazer discípulos de todas as nações da
terra. Isso se realiza batizando e ensinando as pessoas. Portanto, parte da
grande comissão se faz batizando: recebendo pessoas na igreja visível por meio
do sinal de entrada no pacto, ordenado por Deus. É óbvio que a igreja tem o
legítimo monopólio disso. Deus jamais deu essa autoridade aos indivíduos, às famílias,
às comissões missionárias independentes, ao Estado, ou às organizações
paraeclesiásticas. Portanto, se as pessoas que professam ser discípulas de
Cristo não estão sendo batizadas na igreja, a grande comissão simplesmente não
está sendo cumprida. Somente a igreja e não uma organização paraeclesiástica
qualquer — por mais digna que seja — foi ordenada por Cristo a realizar a
grande comissão. Somente a igreja foi especificamente estabelecida por Cristo.
Lembre-se das Suas palavras: “eu
edificarei a minha igreja” (Mt 16.18).
É opcional ser
membro de igreja?
Então, ser
membro de igreja é uma exigência ou pode ser opcional? Vamos dizer de outro
jeito: a obediência a Cristo é uma exigência ou uma opção? Essa pergunta
precisa ser feita hoje pois muitas pessoas têm a idéia equivocada de que para
serem crentes tudo que precisam é fazer uma mera oração e serão eternamente
salvas. Não é necessário que se evidencie nenhuma transformação particular em
suas vidas. Jamais precisarão abandonar os seus pecados de estimação; não
precisarão ter vontade de ler a Bíblia ou de freqüentar uma igreja
regularmente; não precisarão ser líderes espirituais em suas famílias; não
precisarão ter um testemunho cristão digno de crédito. Nunca precisarão fazer
nada por Cristo. Mas está tudo bem (pensa-se) porque existem dois níveis de
santificação: o crente e o super-crente. Nem todos os crentes têm obrigação de
ser obedientes a Cristo. Nem todos têm que tratar com o pecado. Nem todos têm a
obrigação de ler a Bíblia ou de ir à igreja regularmente. Essas coisas são
somente para os super-crentes, para aqueles que alcançaram um nível mais alto
de espiritualidade.
Mas, é isso o
que a Escritura ensina? Não, de jeito nenhum! O apóstolo João escreveu: “Se dissermos que mantemos comunhão com ele e
andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. .... Aquele que diz:
Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a
verdade” (1Jo 1.6; 2.4). Assim, a Escritura desconhece o crente que não
abandona o seu pecado nem guarda os mandamentos de Deus. Os que se recusam a
conformar as suas vidas à vontade de Deus expõem-se ao perigo mortal da
perdição eterna.
É opcional ser
membro de igreja? Para o crente que está obrigado a viver a sua vida conforme
toda palavra que procede da boca de Deus basta que se defina se a Palavra de
Deus o exige ou não. Que diz o nosso texto? “obedecei a vossos pastores e sujeitai-vos a eles”. Isso está bem
claro, não? Não há como burlar o fato de que o discípulo de Jesus Cristo está
solenemente obrigado a se submeter obedientemente à legítima autoridade da
igreja de Cristo. Submissão à autoridade legal — seja ela familiar, civil ou
eclesiástica — não é um conceito muito popular nos dias de hoje, mas é o que
Deus requer no interesse de uma sociedade próspera e bem-ordenada. A igreja tem
que voltar a pregar essa verdade de novo, ou enfrentará o justo furor de Deus.
Quatro cursos
de ação
A título de
aplicação deixem-me sugerir quatro cursos de ação.
Primeiro, é essencial que você se coloque sob a
autoridade local apropriada de um ramo da verdadeira igreja instituída por
Cristo. A verdadeira igreja pode ser identificada por três marcas: a fiel
pregação de todo o conselho de Deus; a correta administração dos sacramentos do
batismo e da Ceia do Senhor; e a prática consistente da disciplina
eclesiástica. A igreja que falhar em qualquer uma dessas áreas não é uma
verdadeira igreja.
Segundo, se necessário transfira a sua
membresia para uma igreja que possua essas três marcas. Pode ser que precise
viajar uma boa distância, com uma boa parcela de incômodo pessoal, para
encontrar uma. Talvez até precise se mudar para uma outra região ganhando um
salário menor. Está pronto para fazer o sacrifício? A obediência a Deus o
exige.
Terceiro, ao se mudar para uma outra
comunidade transfira a sua membresia imediatamente. Como é que a igreja poderá
exercer a correta supervisão espiritual de um membro fora do seu território? E
se na comunidade não houver uma denominação local da verdadeira igreja? Então o
crente simplesmente não deveria se mudar para aquela comunidade. Algum tempo
atrás alguém fez a seguinte pergunta ao articulista de uma coluna periódica na
rede mundial: “Que deveria fazer o crente que mora numa região onde não pode
achar a verdadeira adoração ao Senhor? Mudar-se não é economicamente viável”. A
resposta dele foi: “Foi isso o que Ló disse; e também a mulher dele. Mas no
final eles tiveram que se mudar bem rápido, quando foram despejados!”.
Quarto, avalie o modo como direciona o seu
dinheiro para missões. As organizações que apoia têm o correto entendimento
bíblico da igreja? Prestam contas a uma igreja,
ou a uma comissão executiva selecionada a dedo? Contribuem para o
estabelecimento de novas igrejas ou
buscam somente “decisões”? Nenhuma organização que não encoraje o
estabelecimento de igrejas é digna do
seu dinheiro para missões. Redirecione esse dinheiro imediatamente: a mordomia
responsável o exige.
A Palavra de
Deus exige: “obedecei a vossos pastores e
sujeitai-vos a eles”. Está disposto a viver as implicações dessa ordem
clara? Deus o abençoará se o fizer.
*Pastor da Igreja
Presbiteriana Ortodoxa Grace (OPC), Okemos, Michigan nos Estados Unidos. O Rev.
Pribble trabalha para o Comitê de Educação Cristã da OPC e administra o sítio
www.opc.org na rede mundial.
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