Neste vídeo o Dr. Sinclair Ferguson fala sobre o significado da justiça de Cristo imputada aos Crentes. Ouça-o! (legendado).
Abaixo, um texto do mesmo autor sobre o Espírito e a Pregação
Por Dr. Sinclair Ferguson
Abaixo, um texto do mesmo autor sobre o Espírito e a Pregação
Por Dr. Sinclair Ferguson
Nas
listas que o Novo Testamento apresenta, é dado um lugar central aos dons para o
ensino e a pregação da palavra de Deus. Isso já era verdadeiro nos dias
apostólicos, como deixa transparecer claramente o ministério dos apóstolos.
O
ministério de Paulo em Éfeso exibe este enfoque com grande clareza. Ele chegou
a ser caracterizado pelos sinais confirmativos do ministério apostólico até
mesmo além do normal: “Deus fazia milagres extraordinários
...” (At 19.11). Todavia, a peça central da obra de Paulo foi a preleção na
escola de Tirano, onde por dois anos ele ensinou diariamente aos discípulos. O
seu comentário pessoal sobre aquele
período de sua vida é iluminador: ensinou aos efésios; pregou o reino e
proclamou todo o conselho de Deus (At 20.20; 25; 27). De fato, uma tradição
textual sugere que ele fez isso até durante o período da sesta (= descanso)
diária, por várias horas, talvez por cinco horas a fio, a cada dia.
À
luz disto, as instruções de Paulo a Timóteo, que ultimamente estava ministrando
em Éfeso, adquire uma significação especial. O foco de sua atenção é posto no
papel central do ensino e pregação bíblicos no período pós-apostólico. Timóteo
devia dar atenção não só à leitura (1 Tm 4.13), mas devotar-se ao manejo da
palavra de Deus com eficácia (2 Tm 2.15). Deveria pregar de tal maneira que
ficasse bem claro como a Escritura é “útil para o ensino, para a repreensão,
para a correção, para a educação na justiça”. Enquanto assim pregasse a
palavra, ele deveria “corrigir, repreender e encorajar – com grande paciência e
criteriosa instrução” (3.16–4.2; a divisão normal de capítulo não é muito feliz
aqui).
Nesta
conexão, Paulo considera a palavra de Deus como “a espada do Espírito” (Ef
6.17), pela qual ele tem em mente não só que ela foi forjada pelo Espírito
(inspiração), mas também que ela é empregada pelo Espírito com poderoso efeito
(cf. Hb 4.12-13). Através dela o
Espírito honra a Cristo e produz convicção de pecado (Jo 16.8/11), como ele fez
através da pregação de Pedro no Dia de Pentecostes. Embora a proclamação feita
pelas línguas tenha impressionado alguns dos que a ouviram, foi a pregação que
Pedro fez com base nas Escrituras que efetuou a conversão de três mil pessoas.
Em
outra parte Paulo indica o que está no coração de comunhão tão eficaz. Ela não
provém de nenhuma retórica, sabedoria ou oratória humanas, mas do poder – a
marca registrada do Espírito (cf. At
1.8). Sua pregação aos coríntios foi “não com sabedoria e palavras persuasivas,
mas com a demonstração do poder do Espírito” (1Co 2.4). Sua pregação aos
tessalonicenses foi de um caráter semelhante: “nosso evangelho veio a vós não
simplesmente com palavras, mas também com poder, com o Espírito Santo e com
profunda convicção... recebestes a mensagem com alegria produzida pelo Espírito
Santo” (1Ts 1.5-6).
Várias
coisas caracterizavam tal pregação. A primeira era o evidente enfoque de Paulo
centrado na pessoa e obra de Cristo (1Co 1.23; 2.2) e, particularmente, no
Cristo crucificado como o poder e sabedoria de Deus. A segunda era a maneira
como ela se adequava na grade da função das Escrituras dadas pelo Espírito
(ensino, repreensão, correção e cura, e treinamento na justiça, cf. 2 Tm 3.16–4.2). A terceira era o
contexto no qual ela era posta na vida do pregador. Aqui se torna relevante
nossa discussão anterior sobre a união com Cristo, pois a poderosa pregação de
Paulo parece ter sido com freqüência um correlato de sua experiência de
provações e angústias. Ele vivia em Corinto “em fraqueza e temor, e... muito
tremor” (1Co 2.3). Foi na incitação do sofrimento e insulto em Filipos que ele
pregou em Tessalônica de forma muito frutífera (1 Ts 2.2). Em Cristo ele era
fraco, ainda que vivesse com Cristo para servir em seu ministério (2 Co 13.5).
A
marca registrada da pregação que o Espírito efetua é a “ousadia” (parrhesia = pan + rhesis, At 4.13,
29, 31; Fp 1.20; cf. 2 Co 7.2). Como no Antigo Testamento, quando o Espírito
enche o servo de Deus, ele “se veste” com essa pessoa, e os aspectos da
autoridade do Espírito são ilustrados na corajosa declaração da palavra de
Deus. Essa ousadia parece envolver exatamente o que ela denota: há liberdade de
expressão. Obtemos vislumbres ocasionais disto em Atos dos Apóstolos. O que foi
dito do antigo pregador da Nova Inglaterra, Thomas Hooker, se torna uma visível
realidade: quando ele pregava, os que o ouviam sentiam como se ele tivesse
pegado um rei e posto em seu bolso! Há um senso de harmonia entre a mensagem
que está sendo proclamada e o modo como o Espírito se veste com o mensageiro.
Aqui as cortantes palavras de Gordon Fee certamente acertam o alvo:
A
oratória polida às vezes ouvida dos púlpitos, onde o próprio sermão parece ser
o alvo do que se diz, causa admiração se o texto for ouvido. O próprio ponto de
Paulo requer uma nova audição. O perigo está sempre em deixar a forma e o
conteúdo substituir aquilo que deve ser a única preocupação: o evangelho
proclamado através da fragilidade humana, mas acompanhado pela poderosa obra do
Espírito, de tal sorte que as vidas são transformadas pelo encontro do
divino-humano. Isso é difícil de se ensinar num curso de homilética, mas ainda
permanece como a verdadeira necessidade na pregação genuinamente cristã.([1])
A
pregação da palavra de Deus é o dom central do Espírito, dado por Cristo à
igreja. Por meio dela a igreja é edificada em Cristo (Ef 4.7-16). Provar-se-á
ser um dos enigmas da vida eclesiástica contemporânea, quando visualizada à luz
de alguma era futura, que a abdicação da qualidade e da confiança na exposição
da Escritura e a fascinação com a imediação das línguas, interpretações,
profecia e milagres eram coincidências?
A
vida eclesiástica contemporânea, quando visualizada à luz de alguma era futura,
não nos provará que um dos seus enigmas, qual seja a abdicação da qualidade e
da confiança na exposição da Escritura e a fascinação com a imediação das
línguas, interpretações, profecia e milagres, eram coincidência?
Fonte: “Dons Para
o Ministério” – Dr. Sinclair Ferguson – Editora
os Puritanos, pp. 54-58
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