Richard
T. Zuelch
De acordo com
o falecido Herbert Lockyer, Sr. (1886-1984), em seu livro de 1959 Todas as Orações na Bíblia, há,
excluindo os Salmos, 650 claras orações na Bíblia, 450 das quais têm claras
respostas registradas a elas. Incluindo os Salmos (que são todas realmente
orações) há um total de 800 orações nas Escrituras.
A Bíblia,
portanto, está saturada de oração. As muitas pessoas piedosas que são achadas
nas páginas dos Escritos Sagrados instintivamente olham para Deus a fim de
suprir suas necessidades diárias, acalmar seus temores, vingá-los de seus
inimigos e providenciar salvação do pecado. Isto acontece apenas pela graça de
Deus o Pai, através do Senhor Jesus Cristo, no poder do Espírito Santo.
Como crentes,
nós também deveríamos viver vidas impregnadas de oração. Contudo, nós, às
vezes, oramos baseados em condições. Isto é algo que nosso Senhor, durante sua
vida terrena, nunca fez. Nós freqüentemente esquecemos como é precioso o dom
que Deus nos deu ao prometer aos seus filhos ouvir nossas orações. A fé deveria
nos levar ao trono da graça em oração. Como Calvino escreveu uma vez, “a fé não
é verdadeira, a menos que assevere e traga à mente o mais doce nome do Pai – e
mais, a menos que abra nossa boca para livremente clamar: “Abba, Pai” (Gl 4:6;
Rm 8:15) (Institutas 3:13:15).
Há vários
princípios vitais que a Bíblia nos ensina a lembrar acerca da oração. Será
produtivo que os lembremos.
Oração é algo ordenado por Deus para o
crente
Oração não é
uma atividade opcional na vida cristã. Ela é, juntamente com a própria
Escritura, nosso elo com Deus. Assim como Deus nos fala através das páginas da
Bíblia, ao lermos e estudarmos, assim Ele nos ordena a falar a Ele em oração.
No Sermão do Monte (Mt 5:3-7:27) nosso Senhor presumiu que a oração deveria ser
parte da vida do crente: “E quando orardes ...” (Mt 6:5-7, 9). O apóstolo Paulo
nos diz que a oração constante é a ‘vontade’ de Deus para nós (1 Tss 5:17-18).
O escritor aos hebreus pediu a seus leitores que orassem por ele (Hb 13: 18).
Tiago nos informa que “a oração do justo” tem muita utilidade aos olhos de Deus
(Tg 5:13, 16).
O cristão não
pode viver sem oração mais do que pode viver ser respirar ou comer. Muitas
vezes, nosso Senhor esteve acordado a noite inteira em oração diante do Pai. Se
Ele mesmo achou que oração era uma necessidade vital em Sua vida, quão mais
deveria um crente inclinar-se no peito de seu Pai celeste em oração? Deus nos
convida a ter comunhão com Ele, a fim de que possa nos abençoar.
Nós dedicamos a oração a um Deus Santo
As Escrituras
no lembram que Deus é, acima de tudo, santo (Lv 11:45). Ele é inexplicavelmente
santo em todos os Seus atributos e em todas as Suas ações. Do início da criação
à consumação de todas as coisas, tudo que Deus é e faz demonstra a pureza de
Sua absoluta santidade. “Profira a minha
boca louvores ao Senhor, e toda carne louve o seu Santo nome para todo o sempre.”
(Sl 145:21)
Conseqüentemente,
as orações que Lhe dedicamos não devem ser expressas ligeiramente. O tempo que
uma pessoa se prostra diante do trono da graça não é uma ocasião para
leviandade. Nós devemos entrar na presença de Deus sabedores de que, conquanto
Ele seja nosso Pai celeste que ama seus filhos encarecidamente, Ele também é o
Todo-Poderoso Senhor do Universo, o qual exige ser tratado com o máximo
respeito e dignidade. Isto não quer dizer que nós devamos nos aproximar dEle
com temor acovardado, pois “o perfeito
amor lança fora o medo” (1 Jo 4:18).
Entretanto,
devemos nos lembrar que a oração é um rico privilégio dado a nós pela graça do
Salvador que sofreu a morte por nós. Não podemos de forma alguma abusar dela ou
ser frívolos com ela. O Deus santo espera que nos aproximemos com uma atitude
de séria alegria em nossas orações.
A oração é, essencialmente,
trinitariana
O cristão ora
no poder habilitador de Deus o Santo Espírito, que torna apropriado, como é Seu
privilégio, a obra expiatória de Deus o Filho, o qual, sozinho, lhe dá acesso
ao trono de Deus o Pai.
A aproximação
de Deus o Pai pode ser feita unicamente através de Deus o Filho, o Senhor Jesus
Cristo (Jo 14:16). No mesmo capítulo do evangelho de João, Jesus enfatiza Sua
unidade essencial com o Pai (7, 11). Logo depois, nós aprendemos que o Espírito
Santo é dado aos crentes pelo Pai a pedido do Filho (16-17). Então, todas as
três Pessoas da Trindade estão envolvidas na obra da oração.
Embora não
haja nada nas Escrituras contra orar de forma particular a qualquer das Pessoas
da Trindade, é geralmente conhecido que a oração é normalmente dirigida a Deus
o Pai. Como autor do plano da salvação, é ao Seu trono que devemos nos
aproximar em reverência e santo temor (Is 6). Por causa da expiação vicária
efetuada por Seu Filho, Ele está sempre disposto a ouvir as orações fervorosas
dos crentes aos aproximarem-se dEle em doce comunhão.
Nós podemos
nos dirigir ao Pai através dos méritos de Seu Filho, e unicamente por Ele (Jo
14:6). Charles Haddon Spurgeon, em um sermão em Lucas 11:9-10 disse: “Nunca
houve uma verdadeira oração dedicada a Ele que não foi ouvida. As orações mais
aceitáveis em seu nível mais elevado chegam a Ele pelo caminho dos ferimentos
de Cristo.”
Como a Pessoa
que aplica a grande salvação de Deus aos eleitos em regeneração e conversão, o
Espírito Santo energiza as orações a serem dedicadas. Em Sua onisciência, Ele é
perfeitamente familiar com a profundidade de nossos espíritos e com a santa
vontade de nosso Pai (Rm 8:26-27). Quando nos faltam palavras, Ele sabe
imediatamente como orar por nós. Ele sabe como compor orações de modo que sejam
aceitáveis ao Pai das luzes. Nós podemos descansar no conhecimento de que a
oração sincera do coração do crente não será desprezada pelo Pai, que nos
convida a que Lhe falemos.
Adoração é um elemento integral da
oração
“Louva, ó minha alma, ao Senhor. Louvarei ao
Senhor durante a minha vida; cantarei louvores ao meu Deus, enquanto eu viver”
(Sl 146:1-2). “A minha alma engrandece ao
Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador” (Lucas 1:46-47).
Muitos
cristãos, seja por ignorância da natureza da oração ou por egoísmo, presumem
que o propósito da oração é “conseguir coisas de Deus”. Na verdade, encontramos
um livro sobre oração , escrito por um americano, John Richard Rice
[1895-1980], no qual ele proclama que oração é somente pedir coisas a Deus. Louvor, ações de graças, ou adoração,
para ele, aparentemente não constituem a oração. Pedir nunca deve ser o foco
único da oração. Adorar é um grande privilégio. O crente passará a eternidade
empenhado na adoração a Deus. É necessário, portanto, que devotemos muito de
nossa atenção na oração, seja individual ou corporativa, pensando na adoração e
louvor devidos a Deus.
Nenhuma outra
atividade engajada pelo cristão pode trazer tal bênção para nossas almas como a
adoração. Nenhum outro exercício que o cristão possa experimentar tem igual
efeito sobre seu entendimento do ser e natureza de Deus. É santificador estar
na presença de Deus e glorificar Seu nome. Nada mais que o cristão possa fazer
edifica sua mente e coração como curvar os joelhos diante de Deus e conhecer
sua presença soberana. Quando a adoração a Deus é feita de forma reverente e
espiritual, o crente conhece a comunhão com Deus de uma forma maravilhosa.
Nós com freqüência não sabemos sobre o
que devemos orar e, mesmo quando sabemos, nós oramos com motivos mistos.
Um de nossos textos guias aqui é Deuteronômio
29:29: “As cousas encobertas pertencem ao
Senhor nosso Deus; porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos
para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei.” Se nós não entendemos
as “coisas secretas” que são conhecidas apenas pelo Todo-Poderoso Deus, quão
menos entendemos o próprio Deus? O Espírito Santo reside dentro dos crentes
para nos ajudar a orar (Rm 8:26-27).
Nós precisamos
da ajuda do Espírito para superar nossas tendências pecaminosas. Nós não oramos
como deveríamos, em parte, por causa de nossos motivos mistos. Muito de nossas
orações é egoísta e egocentricamente orientado, devido ao fato de nosso pecado
ser constantemente insistente, mesmo quando fazemos nosso maior esforço para
nos concentrarmos apenas em Deus durante nosso tempo de oração. Estamos sendo
constantemente arrastados pelo pecado dentro de nós. O Espírito Santo nos ajuda
aqui também.
Deus prometeu suprir todas as nossas
necessidades, mas não necessariamente todos os nossos desejos
“Escuta, ó Deus, a minha oração, dá ouvidos
às palavras da minha boca. ... Eis que Deus é o meu ajudador, o Senhor é quem
me sustenta a vida” (Sl 54:2,4). “Confia
os teus cuidados ao Senhor, e ele te susterá: jamais permitirá que o justo seja
abalado” (Sl 55:22).
Estas
Escrituras testificam o fato de que Deus graciosamente sustenta seus
necessitados filhos ao ser procurado por eles em oração. Entretanto, isto
acontece quando procuramos as prioridades de Deus e não as nossas próprias. Nós
temos que discordar daqueles que pertencem ao movimento do “confissão
positiva”. Estes insistem que Deus é obrigado a dar aos cristãos qualquer coisa
que Lhes peçam!
É ao nos
humilharmos perante Ele que Ele prometeu suprir nossas necessidades. E, embora
nossas necessidades, legítimas como criaturas, sejam graciosamente abastecidas
por Deus, Ele está, em última instância, muito mais interessado em nossas
necessidades e bem-estar espirituais. Pois nós precisamos principalmente de
salvação e santificação. Nós precisamos
aprender os caminhos de Deus e como segui-los. Nós precisamos nos preparar para a eternidade. Nós precisamos experimentar o perdão de Deus
(João 13:10) e aquele íntimo relacionamento com Ele que a obediência à Sua
Palavra fornecerá.
Muitos crentes
têm testificado, ao olharem para trás em suas vidas desde a conversão, de que
têm razão em agradecer a Deus por não ter Ele respondido muitas de suas orações
egoístas. Eles têm visto, em retrospectiva, a sabedoria dos caminhos de Deus e
têm aprendido como orar mais biblicamente de modo a glorificar a Deus e
edificar os santos.
Vamos seguir
seus exemplos, pedindo que nos seja dado mais do Espírito de Deus para nos
dirigir, de modo a vermos nossas verdadeiras necessidades.
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