Por Charles Spurgeon
‘‘Vocês têm ouvido muitos sermões arminianos, eu ouso dizer, mas nunca ouviram uma oração arminiana... Um arminiano de joelhos orará desesperadamente como um calvinista. Ele não pode orar a respeito do livre-arbítrio; não há lugar para isso. Imagine-o orando: ‘‘Senhor, eu te agradeço que não sou como esses pobres calvinistas presunçosos. Senhor, eu nasci com um glorioso livre-arbítrio; eu nasci com poder pelo qual posso me voltar para Ti por conta própria; tenho melhorado minha graça. Se todos tivessem feito o mesmo que eu fiz com a tua graça, poderiam todos ser salvos. Senhor, eu sei que Tu não nos fazes espiritualmente propensos, se nós mesmos não quisermos. Tu dás graça a todos; alguns não a melhoram, mas eu sim. Haverá muitos que irão para o inferno, tantos quantos foram comprados pelo sangue de Cristo, como eu fui; eles tiveram uma boa chance, e foram tão abençoados como eu sou. Não foi a tua graça que nos diferenciou; eu sei que ela fez muito, mas eu cheguei ao ponto desejado; eu usei o que me foi dado e os outros não — essa é a diferença entre eu e eles’’.[1]
Pecador, inconverso pecador, eu te advirto que jamais poderás tu mesmo fazer com que nasças de novo; e embora o novo nascimento seja absolutamente necessário, te é absolutamente impossível, a não ser que o Espírito Santo faça isso... Faças o que fizeres, e o melhor que conseguires, ainda assim, há uma diferença, tão grande quanto a eternidade, entre ti e o homem regenerado... O Espírito de Deus precisa fazer-te novo, tu precisas nascer de novo. O mesmo poder que ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos tem que agir para ressuscitar-nos dos mortos; a mesma onipotência, sem a qual anjos e vermes não poderiam ter vindo à existência, precisa se manifestar e realizar uma obra tão grande quanto a que Ele fez na primeira criação, recriando-nos em Cristo Jesus, nosso Senhor. Constantemente a igreja cristã tenta esquecer isto, mas sempre que esta velha doutrina da regeneração é apresentada claramente, Deus se apraz em agraciar a sua igreja com reavivamento... A menos que Deus, o Espírito Santo, que opera em nós tanto o querer como o realizar, opere sobre a vontade e a consciência, a regeneração é uma absoluta impossibilidade, e assim também a salvação. “O quê!”, diz alguém, “Você quer dizer que Deus intervém absoluto na salvação de cada pessoa para regenerá-lo?”. Sim, eu quero; na salvação de cada pessoa há um brotar de poder divino, pelo qual o pecador morto é vivificado, o pecador sem vontade é feito desejoso, o pecador mais duro e desesperado tem sua consciência amolecida; e aquele que rejeita a Deus e despreza a Cristo é feito prostrar-se aos pés de Jesus. Tem que haver uma intervenção divina, uma operação divina, uma influência divina, caso contrário, façam o que puderem, sem isso vocês perecerão e estarão condenados — “pois, se um homem não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus...” Nunca esqueçamos que a salvação de uma alma é uma obra de criação. Pois bem, nenhum homem jamais conseguiu criar um inseto... Deus somente cria... Nenhum poder humano ou angelical pode intrometer-se nesta gloriosa província do poder divino. Criação é domínio exclusivo de Deus. E em cada cristão há uma absoluta criação — “criados de novo em Cristo Jesus”. “O novo homem, segundo Deus, é criado em retidão”. Regeneração não é a reforma de princípios que lá estivessem antes, mas a implantação de algo que não existia; é a introdução em um homem de algo novo, chamado Espírito, o novo homem — a criação não de uma alma, mas de um princípio ainda mais elevado — tão mais elevado com relação à alma quanto a alma o é do corpo... No ato de fazer com que qualquer homem creia em Cristo, há uma manifestação verdadeira e própria de poder criador, assim como houve quando Deus criou os céus e a terra... Apenas Ele, que formou os céus e a terra, poderia criar uma nova natureza. É uma obra sem paralelo, ela é única e incomparável, visto que o Pai, o Filho e o Espírito precisam todos cooperar nela; pois, para implantar a nova natureza em um cristão, precisa haver um decreto do Pai eterno, a morte do eternamente Bendito Filho e a plenitude da operação do adorável Espírito. [2]
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